Cremos, como visto no artigo IV, que todo pecado foi remido através do Sacrifício de Nosso Senhor: a Redenção é superabundante, como afirma o Apóstolo “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20). Agora, por este artigo, a Igreja propõe à crença dos fiéis a verdade de que ela mesma recebeu de Cristo, seu Esposo, o poder de remir todos os pecados.
Depois de afirmar a total liberdade e liberalidade da Igreja em relações aos pecados perdoados, as indulgências, o Credo afirma que essa mesma Igreja tem o poder real e próprio de perdoar também os pecados em si. Isso a Igreja exerce através dos Sacramentos, especialmente Batismo e Penitência (Confissão).
O Batismo é absolutamente necessário para a salvação e a Penitência, para os que pecam depois de batizados [1].
Esse poder recebido do próprio Cristo no dia de Sua Ressurreição, porque a remissão dos pecados é a ressurreição da alma:
Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos (Jo 20,22s).
A Igreja, e só ela, é, portanto, a dispensadora da Redenção e através dela apagam-se:
- A ofensa, agravo feito a Deus pelo ato mau (desonra): “Quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho” (Rm 5,10).
- A culpa, mancha do pecado na alma (ausência da graça): “Jesus Cristo nos lavou de nossos pecados no Seu sangue” (Ap 1,5).
- A pena, castigo que o pecado merece (justiça): “Carregou os nossos pecados em Seu Corpo sobre o madeiro” (I Pd 2,24).
*
Pecados que bradam a Deus
Alguns pecados recebem especial atenção por parte da Igreja; são os chamados pecados que bradam ao céu e pedem vingança a Deus: “Se tomares como penhor o manto de teu próximo, devolver-lho-ás antes do pôr-do-sol, porque é a sua única cobertura, é a veste com que cobre sua nudez; com que dormirá ele? Se Me invocasse, Eu o ouviria, porque EU SOU misericordioso” (Ex 22,26s).
- homicídio voluntário:
Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por Mim desde a terra (Gn 4,10);
- pecado impuro contra a natureza:
O Senhor ajuntou: é imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande (Gn 18,20);
Onã, que sabia que essa posteridade não seria dele, maculava-se por terra cada vez que se unia à mulher do seu irmão, para não dar a ele posteridade. Seu comportamento desagradou ao Senhor, que o feriu de morte (Gn 38,9s);
- opressão dos pobres, órfãos e viúvas:
O Senhor disse: Eu vi a aflição de Meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, Eu conheço seus sofrimentos. Agora, eis que os clamores dos israelitas chegaram até Mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios (Ex 3,7.9);
Não maltratarás o estrangeiro e não o oprimirás, porque foste estrangeiro no Egito. Não prejudicareis a viúva e o órfão. Se os prejudicardes, eles clamarão a Mim e Eu os ouvirei; Minha cólera se inflamará e vos farei perecer pela espada; vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos (Ex 22,21-24);
- não pagar o salário a quem trabalha:
Não prejudicarás o assalariado pobre e necessitado, quer seja um de teus irmãos, quer seja um estrangeiro que mora numa das cidades de tua terra. Dar-lhe-ás o seu salário no mesmo dia, antes do pôr-do-sol, porque é pobre e espera impacientemente a sua paga. Do contrário clamaria contra ti ao Senhor, e serias culpado de um pecado (Dt 24,14s).
Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos (Tg 5,4).
Esses são os piores pecados e mesmo estes a Igreja tem poder de perdoar. Existe, entretanto uma categoria de pecados que vão contra a economia da salvação e deles trataremos abaixo.
Pecados contra o Espírito Santo
Certos atos têm uma desordem sobrenatural tão grande que, por sua natureza, e não por falta de misericórdia da parte Deus ou de poder por parte da Igreja, não podem ser perdoados: são os pecados contra o Espírito Santo, ou seja, contra a Caridade divina, recusando deliberadamente receber a misericórdia de Deus ou rejeitando o arrependimento e o perdão dos pecados e, consequentemente, a salvação oferecida gratuitamente. Diz o Salvador: “E Eu vos digo: todo o que tiver blasfemado contra o Espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno” (Mc 3,29, cf. Mt 12,31). São eles:
- Desesperar da salvação (rejeição da Esperança). Não é possível a contrição porque se acredita está definitivamente na condenação.
- Presunção de se salvar sem merecimentos (tentar a Deus). Não é possível a contrição porque se acredita que já está em posse da salvação.
- Combater a verdade conhecida (desprezo da Fé). Não é possível a contrição porque o orgulho enegrece a visão sobrenatural, causando indiferença quanto ao Magistério.
- Ter inveja das graças que Deus dá a outrem (abandono da humildade). Não é possível a contrição porque há verdadeira revolta contra a ordem imposta por Deus.
- Obstinar-se no pecado (essencialmente como combater a verdade conhecida). Não é possível a contrição porque se quer escolher os bens e não o Bem.
- Morrer na impenitência final (recusa da Caridade). Não é possível a contrição porque não quer arrepender-se, pois prefere o mal ao bem.
Esses pecados, por sua natureza intrínseca, impedem o recebimento do perdão, repita-se, não por defeito da misericórdia de Deus ou impotência da Igreja, mas pelo pecado em si mesmo.
________________
Nota
[1] Aqui se fala acerca dos que conhecem a Igreja. Para uma melhor compreensão sobre os que a desconhecem, leia-se este texto.
Karlos, quais são as fontes principais que você usa para elaborar esses comentários sobre o Credo?
CurtirCurtir
Catecismos Romano e de São Pio X, os comentários de Santo Tomás. A Suma etc etc.
CurtirCurtir