«Senhor Deus, firmemente creio e confesso tudo e só o que a Santa Igreja Católica propõe, porque, Deus, a ela revelastes, Vós que sois a Verdade e a Sabedoria que nunca falha e não pode falhar. Nesta Fé viverei e permanecerei até a morte».
Este é o ato de Fé que, juntamente com os atos de Esperança, Caridade e contrição, todo o católico deveria fazer diariamente. Nesta belíssima oração, Deus é chamado de Verdade. Na Sagrada Escritura, lemos que a Igreja, que é a casa de Deus, é coluna e sustentáculo da Verdade (cf. I Tm 3,15); Verdade esta que nos liberta (cf. Jo 8,32) e que é o próprio Jesus Nosso Senhor: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). É realmente através dessa única Igreja do Deus vivo (cf. I Tm 3,15) que todas e cada uma das verdades divinamente reveladas se mantêm inalteradas e vencem os tempos e as investidas das heresias no decurso dos séculos, pois “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (cf. Mt 16,18) e assim todos possam, crendo nessas verdades, se salvar:
- pela íntegra profissão da Fé verdadeira;
- pela prática fiel dos divinos preceitos contido no Decálogo (os dez mandamentos), nas virtudes cristãs e nos deveres de estado;
- pela frutuosa recepção dos Santos Sacramentos da Igreja que são os canais ordinários da graça divina.
Assim afirma o Apóstolo:
Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na Fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro (Cl 1,23).
A Igreja é a coluna e o sustento de Deus, Verdade suprema! De fato, a Igreja sustenta-O porque, apenas nela, através de seus ministros, realiza todos os dias o milagre da presença de Deus nas espécies do pão e do vinho, a Santíssima Eucaristia, pela celebração do sacrossanto Sacrifício da Missa. Também, pela pregação da Palavra de Deus, quer na Tradição, quer na Escritura, todos os preceitos divinos são ensinados a toda criatura.
Do ponto de vista sociológico, Igreja (do latim ecclesia, assembléia) é a sociedade das pessoas batizadas que professam a mesma Fé e obedecem a seus Pastores da Igreja. É verdadeira sociedade porque:
- é um reunião de pessoas que têm um mesmo fim, a saber, a salvação das almas;
- existe uma maneira de adentramento, que é o Batismo.
Espiritualmente, a Igreja é o Corpo Místico de Cristo:
A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja (cf. Cl 1,24), recebida dos lábios do próprio Redentor e que põe na devida luz o grande e nunca satisfatoriamente celebrado benefício da nossa íntima união com tão excelsa Cabeça, é de sua natureza tão grandiosa e sublime que convida à contemplação todos aqueles a quem move o Espírito de Deus; e, iluminando as suas inteligências, incita-os eficazmente a obras salutares, consentâneas com a mesma doutrina (Papa Pio XII, 1943, Carta Encíclica Mystici Corporis, 1, destaques nossos).
Já se percebe nestas poucas palavras, o quanto é excelsa a nossa Santa Mãe, a Igreja. Estas palavras já são suficientes para uma profunda meditação no grande mistério da Igreja. Somos membros de seu Corpo:
E sujeitou a Seus pés todas as coisas, e O constituiu Chefe supremo da Igreja, que é o Seu Corpo, o receptáculo dAquele que enche todas as coisas sob todos os aspectos (Ef 1,22s).
Mas, pela prática sincera da Caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por ele que todo o Corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria – efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na Caridade (Ef 4,15s).
Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja (Cl 1,18.24).
Ninguém vos roube a seu bel-prazer a palma da corrida, sob pretexto de humildade e culto dos Anjos. Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu espírito materialista, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo o corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus (Cl 2,18s).
Além da doutrina do Corpo Místico de Cristo — por si só, bastante profunda e demasiado salutar e misterioso — há uma outra ainda tão ou mais maravilhosa e faz com que os fiéis se encham de alegria por fazermos parte de tão sublime Grêmio: a Igreja é a Esposa de Cristo. Por isso, afirma São Pio X em seu Catecismo Maior, a arca de Noé é uma figura dessa mesma Igreja, pois apenas ela salvou do dilúvio; assim como a antiga Aliança era uma figura da nova. A Liturgia afirma:
[Deus] Que, nesta casa de oração, que edificamos, habitais e concedeis largamente todo bem; e na Igreja, que Vós mesmo fundastes, operais incessantemente a santificação. Com efeito, esta é verdadeiramente a casa de oração, feita visível pela aparência dos edifícios; este é o templo onde habita a vossa glória, a sede da Verdade imutável, o santuário da eterna Caridade. Esta é arca que nos resgata do dilúvio do mundo e nos leva para o porto da salvação. Esta é a dileta e única Esposa, que Cristo comprou com Seu Sangue e vivifica pelo Seu Espírito, em cujo seio renascemos pela vossa graça, somos alimentados pelo leite de Sua Palavra, robustecidos com o Pão da Vida e amparados com os subsídios da Vossa misericórdia. Ela, fielmente na terra, ajudada por seu Esposo, milita; e perenemente no céu, por Ele mesmo coroada, triunfa (Prefácio da Dedicação da Igreja – galicano, destaques nossos).
Então a doutrina de que a Igreja é a Esposa de Cristo pode já ser contemplada no antigo Testamento:
Por amor a Sião, eu não me calarei, por amor de Jerusalém, não terei sossego, até que sua justiça brilhe como a aurora, e sua salvação como uma flama. As nações verão então tua vitória, e todos os reis teu triunfo. Receberás então um novo nome, determinado pela boca do Senhor. E tu serás uma esplêndida coroa na mão do Senhor, um diadema real entre as mãos do teu Deus; não mais serás chamada a desamparada, nem tua terra, a abandonada; serás chamada: minha preferida, e tua terra: a desposada, porque o Senhor se comprazerá em ti e tua terra terá um esposa; assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que te tiver construído te desposará; e como a recém-casada faz a alegria de seu marido, tu farás a alegria de teu Deus. Sobre tuas muralhas, Jerusalém, coloquei vigias; nem de dia nem de noite devem calar-se. Vós, que deveis manter desperta a memória do Senhor, não vos concedais descanso algum e não o deixeis em paz, até que tenha restabelecido Jerusalém para dela fazer a glória da terra. O Senhor o jurou por sua destra e por seu braço poderoso: Não deixarei mais teus inimigos alimentarem-se de teu trigo, nem os estrangeiros beberem o vinho, produto de teu trabalho (Is 62,1-8).
A Igreja é a nova Jerusalém:
Farei do vencedor uma coluna no templo de meu Deus, de onde jamais sairá, e escreverei sobre ele o nome de meu Deus, e o nome da cidade de meu Deus, a nova Jerusalém, que desce dos céus enviada por meu Deus, assim como o meu nome novo (Ap 3,12).
Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo (Ap 21,2).
Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus. Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra muito preciosa, tal como o jaspe cristalino (Ap 21,10s).
As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o Chefe da Igreja, Seu Corpo [místico], da qual Ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à Sua Igreja porque somos membros de seu Corpo [místico]. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Este Mistério (Sacramento) é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja (Ef 5,22-32).
Nosso Senhor quis fundar uma Igreja, uma sociedade visível, para que custodiasse o Santo Tesouro da Fé e o semeasse pelo mundo inteiro:
E Eu te declaro: Tu és Pedra, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16,18s).
Há uma só Igreja e, portanto, um só Chefe, São Pedro e seus sucessores, que fazem as vezes de Cristo [1]. A consequência de ambas as doutrinas — Corpo Místico e Esposa de Cristo — é de que não há como pertencer a Ele, sem ser membro dela. É a tão conhecida afirmação Extra Ecclesiam nulla salus, dogma proclamado no século XIII pelo Papa Inocêncio III:
De coração cremos e com a boca confessamos uma única Igreja, não de hereges, mas a Santa, Romana, Católica e Apostólica, fora da qual cremos que ninguém se salva (IV Concílio de Latrão, 1215, cf. Denz. 423, destaques nossos).
Repetido pelo Magistério posterior (séc. XIV):
Una, Santa, Católica e Apostólica: esta é a Igreja que devemos crer e professar já que é isso o que ensina a Fé. Nesta Igreja cremos com firmeza e com simplicidade testemunhamos. Fora dela não há salvação, nem remissão dos pecados, como declara o Esposo no Cântico: Uma só é minha pomba sem defeito. Uma só a preferida pela mãe que a gerou (Papa Bonifácio VIII, 1302, Bula Unam Sanctam, Denz. 468, destaques nossos).
Posteriormente pelo Papa Eugênio IV (séc. XV):
A Santa Igreja Romana, fundada nas palavras de Nosso Senhor e Salvador firmemente crê, professa e prega que todos os que estão fora da Igreja Católica, não somente os pagãos, mas também judeus ou hereges e cismáticos, não podem participar na vida eterna e irão para o fogo eterno que foi preparado para os demônios e seus anjos, a não ser que eles sejam ingressados à Igreja antes do fim de suas vidas; que a unidade deste corpo eclesiástico é de tal importância que somente para aqueles que permanecem nele, os Sacramentos da Igreja contribuem para a salvação, e que façam jejuns, caridade e outras obras de piedade e práticas da milícia cristã [que] produzem recompensa eterna; e que ninguém pode se salvar, não importa o quanto tenha dado em esmolas e mesmo que tenha derramado seu sangue em nome de Cristo, se não tiver perseverado no seio e unidade da Igreja Católica (Concílio de Florença, 1442, Sessão 11, Bula Cantate Domino, Den. 714, destaques nossos).
E novamente pelo Magistério mais recente:
Fora da Igreja não há salvação, assim como não houve salvação para aqueles que estavam fora da arca de Noé, primeira figura desta Igreja (Papa São Pio X, Catecismo Maior, 168, destaques nossos).
Poderia Deus nos salvar sem a Igreja? Certamente que sim. Assim como Ele poderia nos salvar sem que Se encarnasse e sofresse a Morte de Cruz; contudo, quis sofrer a Paixão e, semelhantemente, quis a salvação de todo gênero humano dependesse de Sua Igreja, Seu Corpo e Esposa. Em outras palavras, todos os homens que se salvaram, salvam-se e salvar-se-ão, foram, é e será pela Igreja, com a Igreja e na Igreja. Nesse sentido, diz Cristo:
Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou (Lc 10,16).
Quem não ouve a Igreja, não ouve a Verdade, não ouvindo, portanto, a Deus; como pode salvar-se? Ensina ainda o Divino Redentor:
Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganhado teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu (Mt 18,15-18).
EU SOU a videira verdadeira, e Meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em Mim, Ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto. Vós já estais puros pela Palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira [que é Cristo]. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em Mim. EU SOU a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em Mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á (Jo 15,1-6).
As notas da Igreja
Qual dentre todas é a Igreja de Cristo? Os Padres, nos Sagrados Concílios de Niceia e Constantinopla nos dão a resposta: “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica”. A Igreja tem, pois, quatro notas (ou características) substanciais: duas negativas, a unidade e a catolicidade; e duas positivas, a santidade, a apostolicidade.
I ─ Una porque tem um só Esposo, um só Redentor, um só Chefe que é Nosso Senhor Jesus e, na terra, o Papa, sucessor de São Pedro; também uma só doutrina e um só meio de santificação, pois a pluralidade de igrejas implica pluralidade de doutrina, de Fé e de verdade:
Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo (Ef 4,5).
Uma, porém, é a minha pomba, uma só a minha perfeita (Ct 6,9).
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a Minha voz e haverá um só Rebanho e um só Pastor (Jo 10,16).
Pai Santo, guarda-os em Teu nome, que Me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como Nós (Jo 17,11).
II ─ Santa porque foi salva pelo Sacrifício Redentor de Cristo no Calvário e cujo mérito é aplicado pelo Sacrifício da Missa que ela mesma oferece ao seu Esposo para sua própria purificação e justificação de seus membros e de todo o mundo. A Igreja é santa e incorruptível:
Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5,27).
Santifica-os pela Verdade. Santifico-Me por eles para que também eles sejam santificados pela Verdade (Jo 17,17.19).
III ─ Católica porque a Revelação de Cristo é para todos. Não mais para um povo. Todos são chamados ao grêmio da Igreja (a catolicidade da Igreja não se deve ao fato de ela estar difundida em todo o mundo ou de ter em seu seio todos os povos e culturas; já em Pentecostes a Igreja é católica, é uma realidade intrínseca a ela):
Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações (Mt 24,14).
Ide, pois, e ensinai a todas as nações (Mt 28,19).
Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15).
Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo (At 1,8).
Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito (I Cor 12,13).
Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3,28).
IV ─ Apostólica porque a doutrina ensinada pela Igreja foi a pregação dos Apóstolos e tem neles o fundamento de autoridade para que seus ministros falem em nome de Cristo. A apostolicidade da Igreja fala-nos da continuidade dela através dos séculos, pelo que os teólogos chamam de sucessão apostólica, ou seja, a legitimidade de o Colégio dos Bispos ser sucessor dos Apóstolos, sempre em comunhão com o Papa:
Conseqüentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus (Ef 2,19s).
Como é possível ter por pastor aquele que não sucede a ninguém e que é logo de entrada estranho, um profano? (São Cipriano, Ep 64, 3, destaques nossos).
Diz-se também da verdadeira Igreja Romana porque os quatro caracteres da unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade se encontram só na Igreja que tem por Chefe e Supremo Pastor o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, o Papa. Por isso a Igreja Romana é chamada de Mãe e Mestra de todas as Igrejas.
O Papa é, para a Igreja, o Vigário de Cristo, fazendo as vezes dEle no governo da Igreja universal, como ternamente dizia Santa Catarina de Sena: “O Papa é o doce Cristo na Terra”. Ensina o Concílio Vaticano I:
O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da dupla unidade [quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis] (Ibid. Constituição Dogmática Pastor æternus, cf. Denz. 1821, destaques nossos).
A verdadeira Igreja de Cristo é a Igreja Romana. Portanto, a única religião verdadeira é a Católica.
As qualidades
Além disso tudo, a Igreja de Jesus tem quatro qualidades: visibilidade, indefectibilidade (ou perpetuidade), imutabilidade e infalibilidade.
A ─ A Igreja é visível porque consiste em ser uma sociedade visível e exterior. Pois Jesus: (i) estabeleceu um sinal visível para nela entrar: o Batismo; (ii) colocou-lhe à cabeça autoridades visíveis: são Pedro e os outros Apóstolos, ou seja, o Papa e os Bispos; (iii) concedeu-lhe meios externos de santificação: a pregação, os Sacramentos, a obediência e a autoridade;
Cristo quis que a Igreja fosse visível para que os homens pudessem identificá-la e livremente fazer parte dela, reconhecendo seus pastores. De outra maneira não podia obrigar-nos, sob pena de danação eterna, a pertencer-lhe. Diz Santo Ambrósio: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia, ibi Deus” (Onde está Pedro, aí está a Igreja, aí está Deus).
B ─ A Igreja é indefectível (perpétua), ou seja, não pode faltar, por causa de seu fim, que é a salvação das almas de todos os homens até o fim dos séculos. A esse respeito está escrito:
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28,20).
Vacilará a Igreja se vacila o seu Fundamento; mas poderá talvez Cristo vacilar? Não. Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos (Santo Agostinho, Comentário aos Salmos, 103,2,5, destaques nossos).
C ─ A Igreja é imutável porque conservará invariável e imaculada o sagrado Depósito da Fé que recebeu de Cristo como o mais valioso dos tesouros [2].
D ─ A Igreja é infalível porque é livre de erros em relação ao que nos importa à salvação. Sua lei máxima é Salus animarum lex suprema est (a salvação das almas é a lei suprema). Dizem respeito à salvação o dogma e os bons costumes:
Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente. De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém – nós ou um Anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado! É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. Certamente ouvistes falar de como outrora eu vivia no judaísmo, com que excesso perseguia a Igreja de Deus e a assolava (Gl 1,6-13).
Por isso São Paulo foi confirmar o seu Evangelho com o Pastor Supremo, São Pedro:
Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias (Gl 1,18).
Quis Deus que a pertença à Igreja fosse indispensável à salvação: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16). Por isso ela deve ser infalível. O Papa, e apenas ele, quando fala em nome da Igreja algo sobre Fé ou Moral que esteja na Revelação, é infalível:
Por isso, Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da Fé cristã, para a glória de Deus Nosso Salvador, para exaltação da Religião Católica e a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado:
O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra – isto é, quando, no desempenho do múnus de Pastor e Doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica que determinada doutrina referente à Fé e à Moral deve ser sustentada por toda a Igreja – em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa do Bem-aventurado Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual o Redentor quis estivesse munida a Sua Igreja quando deve definir alguma doutrina referente à Fé e aos costumes; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são, por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.
Se, porém – o que Deus não permita – alguém ousar contradizer esta nossa definição seja anátema (Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Pastor æternus, cf. Denz-H 3073-75, destaques nossos).
A infalibilidade também atinge uma decisão de um Concílio Ecumênico quando o Papa a aprova. De fato, Cristo deu as chaves do Reino dos Céus e o poder de ligar apenas a São Pedro (cf. Mt 16,19) e aos Apóstolos em seu conjunto, incluindo São Pedro (cf. Mt 18,18).
A Igreja é, portanto, o fundamento das Escrituras e da Tradição, como afirma Santo Agostinho: “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicæ Ecclesiæ commoveret auctoritas” (Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica ─ Contra epistulam Manichæi quam vocant fundamenti 5,6: PL 42,176).
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Heresias eclesiológicas
- Perenialismo (séc. XIX) afirma que no fundamento das religiões — cristianismo, islamismo, budismo, hinduísmo e taoísmo — é essencialmente idêntico (ensinamentos sobre Deus, o homem, a moral etc.), formando uma mesma verdade. As grandes religiões são reveladas por Deus e cada uma a seu modo oferece meios de salvação. A Igreja condena essa ideia:
Lançai fora a ímpia e funesta opinião de que, em qualquer religião, é possível chegar ao caminho da salvação eterna (Papa Pio IX, 1863, Encíclica Quanto conficiamur mœrore, cf. Denz-H. 2865).
- Indiferentismo religioso (séc. XX), heresia liberal modernista, prega que em qualquer religião se pode obter a salvação, negando qualquer caráter sobrenatural à Fé e chegando, muitas vezes, ao ateísmo prático:
Fora da Igreja é possível tudo, exceto a salvação. É possível ter honras, é possível ter Sacramentos, é possível cantar aleluias, é possível responder amém, é possível possuir o Evangelho, é possível ter Fé no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, é possível pregar; mas em nenhum lugar senão na Igreja Católica, é possível encontrar a salvação (Atribuído a Santo Agostinho, séc. IV).
- Feneísmo (séc. XX), heresia rigorista de Leonard Feeney, excomungado 1953 pelo Papa Pio XII, que dizia ser necessário para a salvação a pertença visível à Igreja ou ao menos um voto explícito de fazer parte de seus membros (catecúmenos):
Aqueles que ignoram a verdadeira religião apenas com muito penar podem traçar o caminho da salvação porque lhes são escassas as graças e auxílios divinos (Papa São Gelásio I, séc. V, Epist. XIV Migne, PL 59, 89, destaques nossos).
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Notas
[1] O Primado de São Pedro (e do Papa) pode ser estudo e aprofundado aqui. A doutrina sobre o Magistério Papal pode ser revista aqui.
[2] O Depósito é a Fé (dogma), a Moral (mandamentos) e os Sacramentos (meios de santificação).