A Revelação, cremos encontrar-se em duas grandes fontes: escrita (Sagrada Escritura) e não escrita (Sagrada Tradição). Ambas, a Tradição e a Escritura, podem ser chamadas de Palavra de Deus Revelada e são chamadas de fontes remotas da Revelação.
A Sagrada Tradição
Como dito, a Sagrada Tradição é a parte da Revelação transmitida pelos séculos de maneira não escrita. Ipso facto, a Tradição é anterior à Escritura.
Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas entretém-te com suas palavras, pois é com eles que aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência, e a arte de servir irrepreensivelmente os poderosos. Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles os aprenderam com seus pais (Eclo 8,9-11).
A Sagrada Tradição existe e é Palavra de Deus:
Por isso é que também nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como palavra de Deus (I Ts 2,13).
A Tradição Apostólica está nos ensinos dos Concílios eclesiásticos, na Liturgia, na arte sacra (principalmente nas antigas catacumbas) e, por fim, nos Padres da Igreja.
Santos Padres da Igreja
Os Padres da Igreja são Santos e proeminentes teólogos (doutores católicos) dos primeiros séculos da Igreja (compreende o período entre os séculos I e VII). Seus ensinos são a base de toda (ou ao menos dos pontos mais importantes) doutrina católica.
A importância dos Santos Padres se deve a:
- interpretação e desenvolvimento que deram da doutrina;
- liturgia, pois praticamente todos os ritos católicos têm origem nos Padres.
Contudo, nem todos os escritos patrísticos são a Tradição da Igreja. Neles há também regras locais e opiniões pessoais que não necessariamente refletem-na.
Os Padres são divididos entre latinos (ocidentais) e gregos (orientais).
Os Grandes Padres Latinos:
- Santo Ambrósio de Milão (340-397);
- São Jerônimo de Estridão (347-420);
- Santo Agostinho de Hipona (354-430);
- São Gregório Magno (540-604).
Os Grandes Padres Gregos:
- São Basílio de Cesareia (329-379);
- Santo Atanásio de Alexandria (296-373);
- São Gregório de Nazianzo (329-389);
- São João Crisóstomo (347-407).
Prova da existência da Tradição
Sobre a Sagrada Tradição, encontram-se as seguintes passagens na Escritura:
Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever (Jo 21,25).
Se alguém tem fome, coma em casa. Assim vossas reuniões não vos atrairão a condenação. As demais coisas eu determinarei quando for ter convosco (I Cor 11,34).
Sabeis bem que preceitos vos dei em nosso do Senhor Jesus (I Ts 4,2).
Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa (II Ts 2,15).
Intimamo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que eviteis a convivência de todo irmão que leve vida ociosa e contrária à tradição que de nós tendes recebido (II Ts 3,6).
Ó Timóteo, guarda o bem que te foi confiado! (I Tm 6,20).
O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a outros (II Tm 2,2).
Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (Bispos) em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei (Tt 1,5).
Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita (II Jo 12).
Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ir ver-te em breve e então falaremos de viva voz (III Jo 13s).
A Sagrada Escritura
Entre as pessoas que receberam a Palavra de Deus de maneira não escrita, a Tradição, algumas foram inspiradas por Ele mesmo para que escrevessem parte da Revelação. A Escritura é inspirada por Deus, mas foi escrita no tempo por homens inspirados, os hagiógrafos.
Santo Tomás define a inspiração como “a ação de Deus, movendo e dirigindo o autor na produção do livro, preservando-o de erros [no que tange à salvação], de forma que é Deus o autor e o homem mero instrumento usado para escrever”.
Também o II Concílio do Vaticano define o conceito de inspiração, nesses termos:
Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-Se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria (Ibid., Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 11).
O conteúdo das Sagradas Escrituras é totalmente ditado por Deus e de obrigação para crença dos fiéis.
A Sagrada Escritura consta de duas partes com 72 livros ao todo: o Antigo Testamento (45 livros) e o Novo Testamento (27 livros).
O Magistério Eclesiástico
Deus não só Revelou-Se e escolheu homens para que escrevessem parte dessa Revelação, como instituiu uma autoridade que guardasse tal Tesouro incorrupto durante os séculos. Essa autoridade é a Igreja Católica.
Toda autoridade Me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações (Mt 28,18s).
Somente o Magistério Eclesiástico pode dizer quais livros são inspirados e quais costumes, regras e doutrinas contidas nos Santos Padres (e outros loci da Tradição) são, de fato, Palavra de Deus.
A Igreja definiu o cânon das Escrituras Sagradas e somente ela pode interpretá-las:
Antes de tudo, sabei que nenhuma parte da Escritura é de interpretação pessoal. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras (II Pd 1,20; 3,16).
O Magistério eclesiástico é, pois, o exercício da autoridade conferida por Nosso Senhor à sua Igreja a respeito de sua tríplice função em relação à Verdade revelada: guardar, ensinar e explicar a Revelação.
Portanto, só a Igreja docente é constituída única depositária e autêntica intérprete da Revelação. Então o Sagrado Magistério é a fonte (regra) próxima da Revelação. O Magistério custodia, explica e interpreta a Palavra de Deus escrita ou oral.
O Magistério, embora não seja a própria Tradição, é o órgão através do qual essa vem transmitida. Por isso, os teólogos chamam à Tradição Apostólica de Tradição passiva e ao Magistério de Tradição ativa.
Assim, o Magistério não é fonte propriamente dita da Revelação (a Escritura e a Tradição sim). O Magistério sempre pressupõe as duas fontes da Revelação.
A Tradição não atestada pelo Magistério da Igreja, não constituiria verdadeira Tradição apostólica, ao máximo teria um valor de documentação histórica, mas não de Fé.
A Igreja é como uma Mestra (Magistério) que contém e transmite a Escritura (Bíblia) e a Tradição (Denzinger) e lhes explica o verdadeiro significado aos discentes. Havendo dúvidas sobre o conteúdo, pode-se pedir explicações à Igreja e ela o iluminará.
É da Igreja que recebemos a Fé e ela é que nos leva ao Depósito, não o contrário:
Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica (Sto. Agostinho, Contra epistulam Manichæi quam vocant fundamenti 5,6: PL 42,176).
Tudo o que foi dito sobre o Magistério se aplica ao Magistério solene e definitivo da Igreja. De fato, existem dois tipos de Magistério:
- Magistério autêntico
- Magistério infalível
Magistério autêntico
Magistério autêntico é o exercício do poder de ensinar pela obrigação de encargo pessoal. Na Igreja, cabem ensinar o Bispo (à sua diocese) e o Papa (ao mundo inteiro).
Esse Magistério não é infalível, mas se deve prestar o devido obséquio:
- Magistério pontifical autêntico: ensino do Papa sem o exercício da infalibilidade (ensino sobre qualquer coisa).
- Magistério pontifical diocesano autêntico: ensino de um Bispo que tem jurisdição sobre uma área (ensino sobre qualquer coisa).
- Magistério universal ordinário autêntico: o ensino da Igreja (Papa e Bispos sobre qualquer coisa).
Magistério infalível
Magistério infalível é o exercício do poder de ensinar de modo definitivo. Apenas a Igreja inteira (Papa e Bispos) ou o somente Papa (cf. Pastor Æternus, Concílio Vaticano I).
- Magistério universal ordinário infalível: o ensino da Igreja inteira continuamente no tempo e no espaço – o que sempre, por todos e em todos os lugares: “quod ubique, quod sempre, quod ab omnibus”, São Vicente de Lerins (em matéria de fé ou moral).
- Magistério universal extraordinário infalível: o ensino da Igreja, Papa e Bispos, normalmente reunidos em Concílio, mas não necessariamente (sobre um ponto de fé ou moral).
- Magistério pontifical infalível extraordinário: o ensino por declaração solene e formal do Papa, chamado de ex cathedra (sobre fé ou moral).
Nenhuma doutrina é considerada infalivelmente definida se não constar claramente (Código de Direito Canônico, cân. 749 §3).
As condições para o pronunciamento ex cathedra (exercido apenas 12 vezes na história bimilenar da Igreja):
- Papa deve queira ensinar como Pastor e Mestre dos cristãos;
- O objeto da definição infalível são apenas proposições de fé ou de moral, ou seja, a salvação das almas;
- Ensine com a intenção de proferir sentença definitiva sobre o assunto focalizado (a infalibilidade não se estende nem aos argumentos previamente apresentados para fundamentar a definição nem às conclusões que desta decorram).
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De tudo o que foi dito sobre o homem – sua busca e dívida para com Deus, sua vontade de religar-se com Ele, como também de sua incapacidade de alcançá-Lo; por outro lado, do fato de Deus Se dignar mostrar-Se ao homem: Há absoluta necessidade de aderir à Revelação, em outras palavras, à religião revelada.
Ditosos somos nós, Israel, porque a nós foi revelado o que agrada a Deus! (Br 4,4).
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