III ARTIGO: VIRGEM MARIA (PARTE 2 DE 2)

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Após considerar a Encarnação de Nosso Senhor, passamos a analisar o papel singular de Nossa Senhora na obra da Encarnação (e Redenção). Os Símbolos da Igreja citam-na neste III artigo.

Nossa Senhora é a criatura humana mais perfeita que Deus criou e, por causa das graças privilegiadas que recebeu, é a Rainha de toda a criação. Na ordem sobrenatural, é mais perfeita que os Anjos, tomando-os um a um ou mesmo todos em conjunto. Os Santos atestam essa verdade:

Deus reuniu toda a água e chamou oceano; reuniu todas as graças e chamou-as Maria (São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da verdadeira devoção).

Tamanha perfeição já estava preexistente no pensamento de Deus antes de toda a eternidade, pois assim interpreta a Igreja sobre essa parte da Escritura:

Desde o início, antes de todos os séculos, Ele me criou, e não deixarei de existir até o fim dos séculos; e exerci as minhas funções diante dEle na casa santa. Assim fui firmada em Sião; repousei na cidade santa, e em Jerusalém está a sede do meu poder. Lancei raízes no meio de um povo glorioso, cuja herança está na partilha de meu Deus; e fixei minha morada na assembleia dos Santos (Eclo 24,14-16).

Nossa Senhora tem uma especial relação com as Pessoas divinas:

  • De Deus Pai, é a Filha predileta.
  • De Deus Filho, é a Mãe virginal.
  • De Deus Espírito Santo, é a Esposa fidelíssima.

As verdades reveladas proposta para a Fé dos fiéis pela Igreja acerca da Mãe de Deus são quatro: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada Conceição e Assunção ao Céu.

A Maternidade Divina

A heresia de Nestório, ao negar a unidade de pessoa em Cristo, consequentemente negava a Divina Maternidade de Nossa Senhora. Em sentido contrário, ensina a Revelação:

Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de meu Senhor? (Lc 1,43).

Portanto a Santíssima Virgem Maria é Mãe de Deus. É o principal e primeiro dogma a respeito de Nossa Senhora, pois dele decorrem os demais. Na verdade, é consequência do fato de que em Cristo há apenas uma Pessoa, que é a do Verbo (Deus).

São Cirilo de Alexandria foi o maior opositor de Nestório e poeticamente defende a honra da Santíssima Virgem, assim como a união hipostática em seu famoso discurso no Concílio:

Salve Maria, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: ‘O teu templo é santo e admirável em sua justiça’ (Sl LXIV, 6).
Salve Maria, criatura mais preciosa da criação; salve Maria, puríssima pomba; salve Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o Sol de justiça.
Salve Maria, morada da Infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo Unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível!
Salve Maria, Mãe de Deus, aclamada pelos Profetas, bendita pelos pastores, quando, com os Anjos, cantaram o sublime hino de Belém: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade’ (Lc II, 14).
Salve Maria, Mãe de Deus, alegria dos Anjos, júbilo dos Arcanjos, que te glorificam no céu!
Salve Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente.
Salve Maria, Mãe de Deus, honra dos Apóstolos!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda que no seio de sua mãe, exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz!
Salve Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo a Graça inefável, da qual diz São Paulo: ‘Apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador’ (Tt II, 1).
Salve Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo Aquele que é luz verdadeira, Nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em Seu Evangelho: ‘EU SOU a luz do mundo’ (Jo VIII, 12).
Deus te salve, Mãe de Deus, que alumiaste aos que estavam nas trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is. IX,2); uma luz não outra senão Jesus Cristo, Nosso Senhor, Luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a esse mundo (Jo I, 9).
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa no Evangelho: ‘Bendito que vem em nome do Senhor’ (Mt XXI, 9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas católicas!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos Céus!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime Batismo da santidade no Jordão!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado!
Salve Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel!
Salve Maria, Mãe de Deus, pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da Fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembleia de entusiásticos defensores de tua honra! (São Cirilo de Alexandria, Discurso no Concílio de Éfeso, PG. LXXVII, 1029-1040, destaques nossos).

A excelsa Maternidade Divina da Virgem Maria foi solenemente definida em 431 no Concílio Ecumênico de Éfeso, sob o pontificado do Papa São Clementino I. Eis a definição formal:

Se alguém não confessar que o Emanuel (Cristo) é verdadeiramente Deus e que, portanto, a Santíssima Virgem é Deípara (Mãe de Deus), porque pariu segundo a carne ao Verbo de Deus feito carne, seja anátema (Ibidem, Denz. 113, destaques nossos).

Algum tempo depois, foi proclamado por outros Concílios universais. Também o Concílio Vaticano II faz referência ao dogma da seguinte maneira:

Desde os tempos mais remotos, a Bem-aventurada Virgem é honrada com o título de Mãe de Deus, a cujo amparo os fiéis acodem com suas súplicas em todos os seus perigos e necessidades (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 66).

Disso cumpriu-se as profecias:

Todas as nações da terra serão abençoadas em tua descendência (Gn 22,18).

Seu Nome será eternamente bendito, e durará tanto quanto a luz do sol. Nele serão abençoadas todas as tribos da terra, bem-aventurado o proclamarão todas as nações (Sl 71,17).

A Virgindade Perpétua

O próximo dogma mariano é a Virgindade Perpétua. Nossa Senhora foi virgem antes do parto, durante o parto e depois do parto; assim ensina Santo Agostinho:

[Maria permaneceu] Virgem ao conceber o seu Filho, Virgem ao dá-Lo à luz, Virgem grávida, Virgem fecunda, Virgem perpétua (Sermão 186, 1, destaques nossos).

Tinha ela consagrado sua Virgindade a Deus:

Maria perguntou ao Anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? (Lc 1,34).

Ora, noiva como era, se não tivesse a intenção de virgindade perfeita irrevogável, jamais faria essa pergunta: nada há de mais normal a quem está prometida a alguém do que receber notícia de um filho vindouro.

Ela concebeu seu Filho Deus de modo virginal, como fora predito pelo Profeta:

Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o chamará Emanuel, ou seja, Deus [está] conosco (Is 7,14).

Deu à luz Virgem porque Deus, seu Filho, a Quem foi consagrado sua santíssima e fecundíssima Virgindade, não lhe quebraria o juramento. Ensina São Cirilo de Alexandria contra o ímpio Nestório, que também negara a Virgindade de Nossa Senhora:

Salve, ó Maria, Mãe de Deus, Virgem e Mãe, estrela e vaso de eleição! Salve Maria, Virgem, Mãe e serva: Virgem, na verdade, por virtude dAquele que nasceu de ti; Mãe, por virtude que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por Aquele tomou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebesse sem concurso de varão, e foi divino teu parto (Atas do Concílio Ecumênico de Éfeso, destaques nossos).

O Corpo de seu Filho serviu-Se do dom da sutileza para não lhe macular a Virgindade:

Assim como mais tarde saiu do sepulcro fechado e selado. Assim como ‘entrou para junto de Seus discípulos, apesar das portas fechadas’ (Jo 20,19); assim como, na observação diária da natureza, vemos os raios solares atravessarem um vidro compacto sem o quebrar e sem lhe fazer o menor estrago; assim também, e de maneira mais sublime, nasceu Jesus Cristo do seio de Sua Mãe, sem nenhum dano para a integridade materna. É, pois, com justos louvores que, em Maria, enaltecemos uma Virgindade perpétua e intemerata. Operado foi este milagre pela virtude do Espírito Santo. De tal modo assistiu a Mãe na conceição e no nascimento do Filho que, dando-lhe fecundidade, lhe conservou, todavia, a Virgindade (Catecismo Romano, I-IV 8, destaques nossos).

A luz, portanto, foi criada para nos servir de entendimento (embora obscuro) de como se deu esse admirável milagre. Assim fala a respeito deste mistério uns versos da piedade portuguesa:

No seio da Virgem Pura
Encarnou Divina Graça.
Entrou e saiu por Ela
Como o sol pela vidraça (Versos de tradição portuguesa, destaques nossos).

A Imaculada Conceição

A Imaculada Conceição é a verdade revelada a qual afirma que Nossa Senhora foi preservada, no instante mesmo de sua concepção, de toda mancha do pecado original por uma graça especial dada preventivamente por seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor. As Sagradas Letras ensinam essa verdade de modo mais ou menos explícito:

Entrando, o Anjo disse-lhe: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo’ (Lc 1,28).

Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’ (Lc 1,39-43).

Nossa Senhora teve sua santa Conceição isenta do pecado porque Deus não permitiria que Sua Mãe, a geradora de Seu puríssimo Corpo, no qual e pelo qual redimiria a humanidade decaída, tivesse sequer um instante contato com o pecado, pois Ele não poderia sequer cogitar tal contato com a imundície. Assim, como tudo fora de Deus, a razão desse privilégio mariano é, em primeira e última análise, Deus mesmo. Não obstante, a Encarnação, mesmo no seio da Santíssima Virgem, é uma humilhação (cf. Fl 2,8):

Vós que para libertar o homem, assumindo a humanidade, não tivestes horror ao útero da Virgem (Hino das Matinas Te Deum, destaques nossos).

O dogma da Imaculada Conceição foi definido em 8 de dezembro 1854. Entretanto, 31 anos antes, aconteceu um caso curioso (extraído do livro Novos relatos de um exorcista do exorcista oficial do Vaticano, padre Gabriele Amorth):

Em 1823, em Ariano Irpino (Avelino, Itália), dois célebres pregadores dominicanos, os padres Cassiti e Pignataro, foram convidados a exorcizar um rapaz. Nessa época discutia-se entre os teólogos sobre a verdade da Imaculada Conceição, que haveria de ser proclamada dogma de Fé, trinta e uma anos depois, em 1854.

Os dois frades impuseram ao demônio que demonstrasse que Maria era a Imaculada, obrigando-o a fazê-lo através de um soneto (poesia de catorze versos hendecassílabos com rima própria obrigatória). Note-se que o endemoninhado era um menino analfabeto de doze anos. Imediatamente Satanás pronunciou estes versos:

Vera Mãe sou de um Deus que é Filho
E sou filha d’Ele, embora sua Mãe.
Ab æterno Ele nasceu e é meu Filho;
No tempo nasci eu que sou a Mãe.

Ele é meu Criador e é meu Filho;
Eu sou sua Criatura e sua Mãe.
Prodígio divino foi ser meu Filho
Um Deus eterno, e me ter por Mãe.

O ser é quase comum entre Mãe e Filho
Porque o ser do Filho teve a Mãe
E o ser da Mãe teve também o Filho.

Ora, se o ser do Filho foi também da Mãe
Ou se dirá que foi manchado o Filho
Ou sem mácula se há-de dizer a Mãe.

Pio IX comoveu-se quando, depois de ter proclamado o dogma da Imaculada Conceição, leu este soneto que lhe foi apresentado naquela ocasião.

Eis a definição dogmática do Papa Pio IX:

Por isto, depois de na humildade e no jejum, dirigirmos sem interrupção as Nossas preces particulares, e as públicas da Igreja, a Deus Pai, por meio de Seu Filho, a fim de que Se dignasse de dirigir e sustentar a Nossa mente com a virtude do Espírito Santo; depois de implorarmos com gemidos o Espírito Consolador; por Sua inspiração, em honra da Santa e Indivisível Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da Fé católica, e para incremento da Religião Cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos:
A doutrina que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis (Papa Pio IX, 1854, Bula Ineffabilis Deus, 41, cf. Denz. 1641, destaques nossos).

Esta definição trata-se do autêntico uso do carisma da infalibilidade papal, como explicado anteriormente, pois o Papa ensina como Supremo Mestre da Igreja inteira — “com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo…” —, assunto de Fé ─ “para exaltação da Fé católica, e para incremento da Religião Cristã”.

Finalmente, o caráter definitivo e irreformável do dogma pode ser visto na condenação:

Portanto, se alguém (que Deus não permita!) deliberadamente entende de pensar diversamente de quanto por Nós foi definido, conheça e saiba que está condenado pelo seu próprio juízo, que naufragou na Fé, que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso, incorreu por si, ipso facto, nas penas estabelecidas pelas leis contra aquele que ousa manifestar oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros que pensa no seu coração.
Ninguém, portanto, se permita infringir este texto da Nossa declaração, proclamação e definição, nem o contrariar e contravir-lhe. E, se alguém tivesse a ousadia de tentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos Bem-aventurados Pedro e Paulo, Seus Apóstolos (Ibidem, 42 e 45, destaques nossos).

A plenitude da graça que ela recebeu de Deus excede a de toda criatura, Anjos e Santos, e vai além da isenção do pecado original. Nossa Senhora recebeu tamanha quantidade de graças que lhe era impossível cometer sequer um pecado venial; tais graças são inferiores apenas àquela plenitude que recebeu a santíssima humanidade de Cristo, cuja medida é a própria união hipostática. Por isso, ela é a Rainha do céu e da terra, como nos afirma a ladainha lauretana; coroa da criação inteira e único lírio realmente perfumado entre os espinhos da humanidade caída (cf. Flos carmeli).

A Assunção e glorificação

O último entre os dogmas marianos é a Assunção de Nossa Senhora, ou seja, a verdade que ela foi elevada ao céu de corpo e alma e goza da visão beatífica já com o corpo glorificado. Evidentemente, esse dogma encontra respaldo nas Escrituras:

Por isso Meu Coração Se alegra e Minha Alma exulta, até Meu Corpo descansará seguro, porque Vós não abandonareis Minha Alma na habitação dos mortos, nem permitireis que Vosso Santo conheça a corrupção (Sl 15,9s).

Diretamente, o salmista se refere a Nosso Senhor. Ora, Seu Corpo foi formado inteiramente do corpo de Sua Mãe; deixar que o corpo dela se corrompesse é, de certo modo, deixar o Corpo de Cristo se corromper. Ainda atestam os Livros Santos:

Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas (Ap 12,1).

A gloriosa Assunção de Nossa Senhora é uma consequência natural do dogma precedente. Isenta de todo pecado, inclusive da culpa original, ela foi assunta ao céu em corpo e alma (como nossos protoparentes se não houvessem pecado).

Esse dogma foi definido por Pio XII em 1º de novembro de 1950:

Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de Verdade, para glória de Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a Sua especial benevolência, para honra do Seu Filho, Rei Imortal dos séculos e Triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da Sua Augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo e com a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial (Papa Pio XII, 1950, Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, 44, cf. Denz. 2333, destaques nossos).

Esta definição, como a anterior, trata-se de ensino ex cathedra porque o Papa usa da suprema autoridade de Magistério — “com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo…” —, assunto de Fé ─ “definimos ser dogma divinamente revelado”.

Por fim, consta a irreformabilidade da doutrina pelo seguinte anátema:

Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na Fé divina e católica.
A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos Bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo (Ib., 45 e 47, destaques nossos).

A Virgem Mãe de Deus é a serva perfeita de Deus — “Eis aqui a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); “Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva” (Lc 1,46s) — e por isso merece a mais alta louvação, a que chamamos hiperdulia: “Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações” (Lc 1,48).

Dessa maneira, louvar Nossa Senhora é reconhecer os bens que lhe foram prodigalizados por Deus, além de, indubitavelmente, obedecer à própria Sagrada Escritura que ordena à Igreja proclamá-la bem-aventurada. Ao reconhecer a imensa grandeza da Mãe de Deus, imitamos, na verdade, o mesmo Deus que a quis glorificar sobre todos os Santos Anjos, Patriarcas, Profetas, Apóstolos, Mártires, Confessores e Santas Virgens.

*

Por causa dessas graças e privilégios especiais, Nossa Senhora é nossa mais perfeita intercessora junto a Jesus, Nosso Senhor, seu Filho primogênito. Essa verdade é afirmada pela Escritura:

Como viesse a faltar vinho, a Mãe de Jesus disse-Lhe: Eles já não têm vinho (…) Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima (Jo 2,3ss).

Ela está sempre atenta às necessidades dos filhos da Igreja, quer espirituais quer materiais, e sua intercessão é tão especialmente agradável a Deus, que é chamada de onipotência suplicante, de maneira que fez o Filho iniciar Seu ministério público; o primeiro milagre do Senhor foi atendido por antecipação por causa do pedido de Sua amantíssima Mãe. Por isso pedimos a Esposa de Cristo acrescentou à Saudação Angélica “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Seu conselho pode ser resumido neste “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 1,5).

Temos ainda outro motivo para confiar na intercessão da Virgem Imaculada: Cristo entregou-nos a ela como seus filhos e fê-la nossa também Mãe:

Quando Jesus viu Sua Mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à Sua Mãe: ‘Mulher, eis aí teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí tua Mãe’. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa (Jo 19,26s).

Santa Maria é, pois, Mãe da Igreja e de cada um de nós em particular, segundo a graça. É chamada muitas vezes de “mulher” por seu Filho para nos mostrar a singular função de sua na obra da redenção:

Então o Senhor Deus disse à serpente: ‘Porei ódio entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar’ (Gn 3,14s).

Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas (Ap 12,1).

Inquestionavelmente, existe «uma inimizade entre a mulher e a serpente (o demônio)»; entre a descendência de Nossa Senhora, ou seja, Nosso Senhor e a Igreja, e a descendência de Satanás.

Os protestantes odeiam Nossa Senhora; por conseguinte, são descendentes do Diabo. Sua religião é falsa e fruto do adultério e mentira de Lúcifer: cada uma das igrejas protestantes são prostitutas de Satanás. Por outro lado, Nossa Senhora é a esposa sempre fiel, tanto a seu Divino Esposo, o Espírito Santo, como a seu esposo terrestre, São José; da mesma forma, a Igreja, que sempre pode ser identificada à Virgem Santa, é a única Esposa de Cristo.

*

Heresias marianas

  • Ebion, judeu, dizia que Cristo era Filho da Santíssima Maria, mas de uma união carnal. Por isso está no Símbolo: “pelo Espírito Santo”:

O que nela foi concebido vem do Espírito Santo (Mt 1,20).

  • Nestório negava a Maternidade Divina de Nossa Senhora, como já foi visto.

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