SACRAMENTO DA SANTA UNÇÃO

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Já foi dito que o tempo que o homem tem de merecer ou não merecer é enquanto está vivo, chamado de estado de via, seguindo-se a isso seu estado final. É natural que no momento mais grave do homem, determinante de seu destino eterno, o semeador da cizânia venha tentá-lo para que se perca e morra inimigo de Deus. Além desse aspecto sobrenatural da batalha espiritual que todos travam, há ainda as paixões que nesse momento derradeiro pode assolar a qualquer um.

Por isso, Nosso Senhor instituiu um Sacramento que fosse subsídio nesse combate contra o demônio e si mesmo. A Santa Unção é o Sacramento pelo qual é dado ao cristão enfermo alívio sobrenatural da alma e muitas vezes também a saúde natural do corpo.

É um verdadeiro Sacramento:

Expeliam numerosos demônios, ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam (Mc 6,13).

Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados (Tg 5,14).

Não há dúvida de que isto [Tg 5,14] deva ser recebido e entendido a respeito dos fiéis enfermos, os quais podem ser ungidos com o santo óleo, que, consagrado pelo Bispo, pode ser usado para unção não somente pelos sacerdotes, mas também por todos os cristãos para necessidade própria ou dos parentes (Papa Santo Inocêncio I, Carta ao Bispo Decêncio de Gúbio, 416, Denz. 99, destaques nossos).

É verdade, porém, que poucos testemunhos se tem acerca desse Sacramento entre os Padres. Essa fato é, contudo, facilmente explicado já que, como dizia São Roberto Bellarmin, as coisas mais evidentes nem sempre foram escritas, para preservá-las do ridículo dos infiéis. Além disso, ainda atesta o Santo Cardeal, nos tempos de perseguição era mais difícil administrar esse Sacramento (e até menos necessário), pois a maior parte dos cristãos não morria pela doença, mas pelo martírio.

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  • Os efeitos da Santa Unção:

Aumenta a graça santificante; concede a remissão dos pecados veniais e das penas temporais devidas aos pecados mortais perdoados e a graça do conforto e da fortaleza da alma contra as dificuldades que se apresentarem no último instante da vida; a saúde do corpo, se isto convier ao bem da alma.

A graça sacramental é o direito aos subsídios necessários para a verdadeira contrição de alma e conformidade com os desígnios divinos.

Os pecados mortais, extraordinariamente, também podem ser remidos pela Santa Unção desde que o enfermo tenha ao menos atrição sobrenatural e que não possa confessar os pecados.

Embora não seja um Sacramento, por si, necessário para a salvação, a ninguém é lícito descuidar-se dele.

  • Matéria:

Remota: óleo de oliva bento pelo Bispo na Quinta-feira Santa na Missa crismal (para a liceidade que seja bento no mesmo ano).

Próxima: unção feita nos sentidos (para a validade é preciso apenas uma unção que, em necessidade, faz-se na fronte).

  • Forma: [1]

POR ESTA SANTA UNÇÃO E PELA SUA PIÍSSIMA MISERICÓRDIA, O SENHOR TE PERDOE O QUE PELA VISTA (PELO OUVIDO, PELO OLFATO, PELO GOSTO, PELAS PALAVRAS, PELO TATO, PELOS PASSOS) TRANSGREDISTE [2].

  • Ministro:

A válida administração só pode ser conferida pelo Sacerdote. Para a liceidade é o sacerdote encarregado da cura de almas em favor dos fiéis confiados a seus cuidados pastorais (como o pároco numa paróquia).

Qualquer sacerdote pode licitamente administrar ou em caso de necessidade ou com a permissão presumida do sacerdote mencionado acima (cf. CDC, cân. 1003 §2).

  • Sujeito:

Qualquer batizado que tenha o uso da razão, esteja em estado de graça e que, por velhice ou grave doença, encontre-se em perigo de morrer.

Extraordinariamente, é possível administrar a Santa Unção se o sujeito não estiver em condições de se confessar, mesmo que seja razoável supor que esteja em pecado, a menos que seja pecado habitual manifesto, ou seja, presumindo a atrição por parte do sujeito.

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Notas

[1] A fim de comparação e enriquecimento, expomos aqui a forma do Batismo no rito Bizantino:

Senhor, nosso Deus, médico das almas e dos corpos que enviastes o Vosso Filho Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo para curar nossas enfermidades e libertar-nos da morte; olhai propício para o Vosso servo N., sarai as suas feridas, perdoai os seus pecados, expulsai para longe dele todos os sofrimentos corporais e espirituais; concedei, pela graça de Vosso Cristo, plena saúde da alma e do corpo, a fim de que, restabelecido por Vossa misericórdia, possa retomar as suas atividades. Pela intercessão de nossa Santíssima Senhora, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, pela virtude da preciosa e vivificante Cruz, pelas orações do Santo Profeta e glorioso Precursor João Batista, dos Santos, gloriosos e ilustres Apóstolos; dos Santos e vitoriosos Mártires, dos nossos Santos Pais revestidos de Deus, dos Santos e generosos Médicos, Cosme e Damião, Ciro e João, Pantaleímon e Hermolau, Sansão e Diómedes, Moisés e Aniceto, Talaleo e Trifón; dos Santos e justos Avós do Senhor, Joaquim e Ana e de todos os Santos, tende piedade de nós, ó Filantropo, e salvai-nos. Pois Vós sois a Fonte da cura, ó nosso Deus, e a Vós elevamos a glória, juntamente com vosso Filho Unigênito e vosso Espírito, Um em essência, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.

Na reforma, Paulo VI, a forma foi mudada para:

Por esta Santa Unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo. Para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na Sua bondade, alivie os teus sofrimentos.

[2] Em urgência, bastam as palavras: «Por esta Santa Unção o Senhor te perdoe o que transgrediste».

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