Após afirmar a Fé na Ressurreição de Nosso Senhor, a Igreja professa a Sua gloriosa Ascensão: “subiu aos céus, está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso”. Mas ela não se deu imediatamente após Seu surgimento dos infernos. Nosso Senhor passou ainda 40 dias antes de ascender para a direita do Pai.
Isso para:
- confirmar Sua Ressurreição aos Apóstolos e discípulos:
Nesse momento, Jesus apresentou-Se diante delas e disse-lhes: Salve! Aproximaram-se elas e, prostradas diante dEle, beijaram-Lhe os pés. Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide dizer aos Meus irmãos que se dirijam à Galileia, pois é lá que eles Me verão (Mt 28,9s);
Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado (Mc 16,14);
Aconteceu que, estando sentado conjuntamente à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram… mas Ele desapareceu. Diziam então um para o outro: Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras? Levantaram-se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os Onze e os que com eles estavam (Lc 24,30-33);
Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos. Põe a tua mão no Meu lado. Não sejas incrédulo, mas fiel (Jo 20,27);
Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousou perguntar-lhe: Quem és Tu?, pois bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e lhos deu, e do mesmo modo o peixe. Era esta já a terceira vez que Jesus Se manifestava aos Seus discípulos, depois de ter ressuscitado (Jo 21,12-14);
- e para confirmar a Doutrina sagrada.
Fez Jesus, na presença dos Seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em Seu nome (Jo 20,30s).
Durante esse período, foram conferidos os três poderes à Igreja:
- A Pedro, o poder de governar (munus regendi):
Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, amas-Me mais do que a estes?’ Respondeu ele: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te tenho amizade’. Disse-lhe Jesus: ‘Apascenta os Meus cordeiros’. Perguntou-lhe outra vez: ‘Simão, filho de João, amas-Me?’ Respondeu-lhe: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te tenho amizade’. Disse-lhe Jesus: ‘Apascenta os Meus cordeiros’. Perguntou-lhe pela terceira vez: ‘Simão, filho de João, Me tens amizade?’ Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou na terceira vez: ‘Me tens amizade?’, e respondeu-lhe: ‘Senhor, sabes tudo, Tu conheces que Te tenho amizade’. Disse-lhe Jesus: ‘Alimenta as minhas ovelhas’ (Jo 21,15-17).
- Aos Apóstolos, o poder de perdoar pecados (munus sanctificandi):
Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos (Jo 20,22s).
- Também a todos os Apóstolos, o poder de ensinar e guardar o Depósito da Fé (munus docendi):
Mas Jesus, aproximando-Se, lhes disse: Toda autoridade Me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28,18ss).
Passados os 40 dias, Ele subiu ao Céu enquanto homem, pois, enquanto Deus que é, nunca o deixara. Assim, Ele subiu ao Céu para:
- Tomar posse do Seu Reino comprado com seu Sangue preciosíssimo;
- Preparar nosso lugar;
- Enviar o Espírito Santo.
Cristo, enquanto Deus, é igual a Deus Pai e ao Divino Espírito Santo; o termo “à direita” significa, primeiro, que a Encarnação não diminui Sua dignidade de Deus. Assim, “à direita” é ter junto com o Pai a glória da divindade e a bem-aventurança (como ensinam São João Damasceno e Santo Agostinho). Como Deus, essa igualdade é uma obrigação e exigência de Sua natureza, por causa de Sua origem divina.
Por sua vez, o termo “está sentado” significa, segundo Santo Agostinho, o poder de julgar e a dignidade régia de modo imutável e próprio. Então o termo significa apenas distinção pessoal e não grau de natureza ou dignidade que de modo algum existe nos Três que são o Deus único (cf. Suma Teológica III, q. 58, a.2, resp).
Mas se se leva em conta a humanidade de Nosso Senhor, ainda assim convém-Lhe «está sentado à direita do Pai», uma vez que Sua natureza humana participa da mesma honra devido à unidade hipostática, pois a Pessoa que dá suporte a essa humanidade é e permanece sendo a própria Pessoa do Verbo, que é Deus. Enquanto homem, portanto, Cristo tem essa dignidade por elevação, não deixando de Lhe ser conveniente com merecimento condigno. Ou seja, na carne, não por ela, mas inseparavelmente dela, Cristo permanece igual ao Pai. A glória de Sua humanidade nada mais é que unicamente o reflexo de Sua divindade.
A humanidade de Jesus está acima de toda a criação, isto é, participa de modo excelso e inigualável da bem-aventurança como nenhuma criatura poderia participar:
Aquele que desceu é também o que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas (Ef 4,10).
Eis o oráculo do Senhor que Se dirige a meu Senhor: Assenta-Te à Minha direita (Sl 109,1).
A humanidade de Cristo, portanto, tem a bem-aventurança com certo poder dominativo, quase próprio e natural.
E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós; e vimos a Sua glória, a glória como de Unigênito do Pai, pleno de graça e verdade (Jo 1,14).