«Em verdade, em verdade, Eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU».
O Evangelho deste I Domingo da Paixão narra-nos a intenção dos judeus em matar a Nosso Senhor depois dessas palavras. O Introito é o Seu argumento de defesa, não a eles, entretanto, mas a Deus, Seu Pai:
Julgai-me, Deus, e discerni a minha causa da gente não santa (Introito).
O Evangelho continua a narrar o confronto entre Nosso Senhor e os judeus; Ele insiste:
Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. Por isto não as ouvis: porque não sois de Deus (Evangelho).
Nosso Senhor, timidamente, afirma Sua divindade, na esperança de que os fariseus se convertessem. Eles, mais uma vez, acusam-Lhe de ser possesso pelo demônio. Como um último recurso, Nosso Senhor revela claramente Sua divindade: “Antes que Abraão existisse, EU SOU”. Os judeus, dessa vez, entendem o significado da afirmação e logo buscam matá-lO apedrejado. Seu povo, para quem Ele veio, rejeita-O (cf. Jo 1,10ss) com o coração mais fechado que seus antepassados em Meribá (cf. Sl 94,8).
No entanto, “Jesus escondeu-Se e abandonou o templo”. Eis o milagre último que prova a Sua divindade: Nosso Senhor desaparece diante de uma turba encolerizada por matá-lO. Também hoje nos templos Ele está de certa forma escondido: veladas tanto a Cruz do Altar como as imagens dos Santos.
Liturgicamente, mais uma vez, haverá de “esconder-Se” na Quinta-feira Santa, porque neste dia ser-nos-á tirado todo o alento na cerimônia do desnudamento do Altar, pois a Santa Reserva sairá do Sacrário.
Hoje o Senhor não habita mais o centro dos templos. Parece que Ele está escondido em sua própria Igreja! Mais uma vez os homens O esquecem: este é o motivo da crise eclesial a que assistimos perplexos. Mas como se pode dizer que Ele está esquecido, se a todo momento é citado? Ele está esquecido porque os católicos esqueceram Seus ensinamentos, a doutrina verdadeira que emana da Igreja; puseram em seu lugar o liberalismo modernista, esqueceram-se de Deus e no Seu lugar puseram o homem!
O Evangelho termina “[Jesus] abandonou o templo”, pois o coração de Seu povo fechou-se mais empedernidamente que o do faraó; tomaram, pois, sua decisão e Ele teve que partir. Bela e triste figura da alma obstinada no pecado, que expulsa, por suas escolhas, o próprio Deus que lhe quer habitar (cf. Ap 3,20). Como é manso o Deus que tem poder de perdoar até os pecados! Com que amor não devemos amá-lO? Como os homens podem querer matar Deus precisamente por Se dizer Deus!? Eis o mistério que permeia a iniquidade do mundo. Eis como se inicia este Tempo da Paixão. O Cordeiro Inocente, será morto pelos condenados, para que Ele lhes redima.
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A Liturgia nos convida a intensificar nossa oração e mortificação, pois temos que, a partir de hoje, unir-nos a Cristo: já se avizinha a maravilha da Redenção; ah! mas a que preço!
Para nos unirmos Àquele que foi odiado por todos, a ponto de ser traído até pelos seus; Àquele que não encontrou consolo, como diz a Escritura “desejei que me consolassem, e não encontrei quem o fizesse” (Sl 68,21), o católico também haverá de experimentar, em algum grau, este mesmo amargor. Ao entrar na igreja, a visão dos Santos está como que proibida, pois hoje a Liturgia manda que sejam cobertas.
De fato, ao ver os Santos, ao lembrar da beatitude da qual gozam, temos um consolo das fadigas das penitências que sofremos. Ora, se queremos nos unir a Cristo em Sua dolorosa Paixão, é mister privar-nos deste consolo.
Mas este não é o único conforto que nos é retirado no Tempo da Paixão: cessa hoje o Gloria Patri; igualmente, a recitação do Salmo 42, o Salmo litúrgico que expressa a alegria pelo Altar. A penitência toma completamente a alma da Igreja pela proximidade da Morte pela qual quer passar seu Esposo. Em vez das expressões de júbilo, clama: “Avança o Estandarte do Rei, fulge o mistério da Cruz”.
Assim, a Epístola mostra a ineficácia dos sacrifícios antigos e os efeitos infinitos do Sacrifício do Senhor:
Com efeito, se o sangue de cabritos e touros e a cinza da novilha, aspergida sobre os manchados, os santificava para a purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo a Si mesmo Se ofereceu imaculado a Deus, purificará nossa consciência das obras mortas, fazendo-nos capazes de servir ao Deus vivo (Epístola)
E por fim, a Santa Igreja confessa a realidade da Missa:
Este é o Corpo, que por vós será entregue; este é o Cálice do Novo Testamento, no Meu Sangue (Antífona da Comunhão).
Se estamos no Tempo da Paixão, se nos aproxima o momento de nossa Redenção, com mais devoção devemos buscar os Sacramentos que nos aplicam os méritos da Cruz: Penitência e Comunhão.
Por fim, assistamos devotamente o Santo Sacrifício da Missa, pois quando a Igreja o celebra, sempre é Tempo da Paixão, como já dizia São Leonardo do Porto Maurício.
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