«Senhor, bom é estarmos aqui; se quiserdes, faremos aqui três tabernáculos, um para Ti, um para Moisés e outra para Elias».
O II Domingo da Quaresma tem por Evangelho a Transfiguração do Senhor. Esse fato, também comemorado em outra oportunidade no calendário (dia 6 de agosto), tem, sim, importância para os exercícios quaresmais. Enquanto o foco da festa do dia 6 é precisamente o fato em si, a manifestação da glória do Senhor, na Quaresma, por sua vez, o centro é a nossa conversão: transfigurar nossos corações impuros naquelas cândidas vestes batismais. Conversão essa que se dará, impreterivelmente, pela oração (simbolizada pela subida ao monte).
Sabemos que essa interpretação corresponde à intenção da Igreja pela Epístola, na qual São Paulo exorta:
Nós vos rogamos e exortamos (…) assim como aprendestes de nós como convém viver para agradar a Deus, assim andeis de modo a vos aperfeiçoardes cada vez mais. (…) Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (Epístola, destaque meu).
À parte dessa óbvia instrução quaresmal, o Evangelho mostra-nos uma tentação comum, infelizmente, entre os tradicionalistas: o comodismo elitista.
Lamentavelmente se abate sobre muitos católicos esse sentimento elitista de que a tradição se deve apenas àqueles poucos capazes de a estudar e compreender em sua profundidade, com os intrincados axiomas tomistas. Ora, Nosso Senhor veio a todos, para salvar a todos; a Igreja, Sua Esposa, é posta como caminho para todos, a ninguém exclui, pois é católica; o Evangelho a todos foi pregado, desde os pequeninos até aos sábios. Na verdade, aqueles mais rápido e facilmente se deixaram inundar pela Boa Nova que esses.
Mas o elitismo dos tradicionalistas também é cômodo. “Temos a Missa, que bom! Que se virem”, é como dizem alguns.
É possível notar atitude semelhante noutro personagem: São Pedro. O Príncipe dos Apóstolos foi acometido de súbito pela visão de Nosso Senhor em Sua glória no Tabor. Rapidamente foi tentado pelo comodismo elitista:
Senhor, bom é estarmos aqui; se quiserdes, faremos aqui três tabernáculos (Evangelho).
“Bom estarmos aqui” (elitismo). Nós estamos; os outros, não: que se continue assim!
“Se quiserdes, faremos três tabernáculos” (comodismo). Ficamos aqui mesmo sem pregar, pois está ótimo, é agradável.
Mas Nosso Senhor rapidamente diz “Levantai-vos e não temais”, em outras palavras, desçamos do monte, não receie os poderes inimigos.
Então lancemo-nos ao mundo, evangelizemos; não podemos ficar apenas na contemplação, no conforto, pois os outros precisam de nós; precisamos pescar homens (cf. Lc 5,10); já no século III, dizia Tertuliano: “quem não é apóstolo, é apóstata”.
Eis a ordem do Senhor para nós: não sejamos acomodados por termos a Fé e a Missa da Igreja; semeemos a boa semente (cf. Lc 8,4ss – Evangelho da Sexagésima) ajudemos a converter aqueles de coração duro, ou mesmo aqueles que apenas ignoram a bela verdade que é a Fé Católica, fora da qual não há salvação (Símbolo Quicumque).
Muito boa a reflexão, eu só acrescentaria que a crítica trata de um mal elitismo, pois um bom elitismo (“não atirei pérolas aos porcos”) também é recomendado por Nosso Senhor.
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