
Antes de tudo, para esse texto escolhemos o ícone do Cristo Pantocrator (Dominador de tudo). Essa imagem é icástica porque o lado direito representa a misericórdia de Nosso Senhor — polegar junto com os dedos mínimo e anelar (símbolo da indivisível unidade da Santíssima Trindade) e os dedos médio e indicador (símbolo da união das duas naturezas, divina e humana, na Pessoa do Verbo) — e o lado esquerdo a justiça, simbolizada pelo livro da Lei [1].
Mandamentos em geral
A Lei, que chamamos de Decálogo ou 10 Mandamentos, foi entregue a Moisés após ele descer do monte Sinai. A Lei lhe foi dada por Deus em duas tábuas: a primeira contém os mandamentos referentes a Deus e a segunda, os referentes ao próximo.
Moisés desceu do monte Sinai, tendo nas mãos as duas tábuas da lei (Ex 34,29).
Na primeira tábua estão os três primeiros Mandamentos (em geral não admitem parvidade de matéria):
I. Amar a Deus sobre todas as coisas (adorar a divindade)
II. Não tomar o Santo Nome de Deus em vão (respeitar o sagrado)
III. Santificar os dias de guarda (cultuar publicamente a divindade)
Na segunda tábua, os demais:
IV. Honrar pai e mãe (obedecer aos superiores)
V. Não matar (preservar a saúde de corpo e alma próprios e do próximo)
VI. Não cometer adultério (guardar a castidade)
VII. Não roubar (respeitar a propriedade privada)
VIII. Não levantar falso testemunho (defender a verdade e preservar fama do próximo)
IX. Não desejar a mulher do próximo (guardar a castidade nos pensamentos)
X. Não cobiçar as coisas alheias (respeitar a propriedade privada nos desejos)
A Lei da Caridade
O Decálogo pode ser resumida em duas leis: «amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todas as tuas forças» (Dt 6,5) e «amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Lv 19,18). O resumo da Lei é a Caridade [2].
Nosso Salvador veio aperfeiçoar a Lei (cf. Mt 5,17) e ordenou no dia que ia ser entregue um novo Mandamento:
Dou-vos um novo mandamento: ‘Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros’ (Jo 13,34).
Então, os batizados que são chamados a se conformarem a Cristo — especialmente os confirmados, que devem se moldar perfeitamente a Ele — têm, no Cristo, a medida do amor e não em si mesmos, uma vez que nosso próprio amor é, sempre, desviado para desordem. Apenas em Nosso Senhor podemos vencer as más tendências da concupiscência adquirida no pecado original.
Cada Mandamento do Decálogo conta, como veremos, com preceitos positivos (que nos mandar o que se deve fazer) e preceitos negativos (que nos manda o que se deve evitar).
Por fim, o Decálogo, expressão da lei natural como uma lei divina revelada é, por isso mesmo, perene, como está escrito:
Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus (Mt 5,18s).
Mais facilmente, porém, passará o céu e a terra do que se perderá uma só letra da lei (Lc 16,17).
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Notas
[1] Por isso, fizemos uma montagem no texto do sobre a lei natural com o lado da justiça espelhado, uma vez que explicou São Paulo (cf. II Cor 3,7ss). Espelhamos o lado da misericórdia no texto sobre os fundamentos morais uma vez que eles são já baseados na Revelação trazida por Nosso Senhor (segundo o mesmo Apóstolo na perícope acima indicada). Neste, colocamos o ícone tal como é.
[2] Preferimos usar Caridade no lugar de amor exatamente para evitar a imprecisão que esse termo acarreta na linguagem comum. Tenha-se em vista que a Caridade é a virtude pela qual amamos a Deus e ao próximo causa de dEle (mais neste texto).