Como eu penso que essa questão se resolve, de acordo com a metafísica tomista:
- O mal físico é a carência de uma perfeição em um bem contingente que corresponda à sua essência, ou que o impeça de alcançar o seu fim. Deus é Autor de todo bem, mas não do mal físico em si mesmo, que surge “per accidens” (por acidente), e é permitido por Deus em vista de um bem maior (por exemplo: como haveria a glória e a paciência dos mártires sem a maldade dos perseguidores?).
- O mal é sempre algo que falta à criatura e que lhe compete ter, a parte defectiva da criatura, seja do ente em relação à sua espécie, seja do ente em relação ao fim que devia ter, que é o caso do mal moral. Como Deus é o próprio Fim ao qual todas as coisas tendem, não é possível imputar a Deus ser causa direta do mal moral.
- Atributivamente, contudo, o mal moral não é uma substância, nem é a carência de um bem, mas um defeito ou imputação feita à criatura livre que adere a um fim particular em prejuízo do fim último. Como vimos, Deus impele todos a Si, não sendo causa direta do mal moral, e, ainda que permita que esse movimento se estanque para alguns, pelo fato de isso ser segundo a ordem de Sua sabedoria e justiça, o defeito do mal moral não Lhe é imputável nem indiretamente. Santo Tomás ensina que só é culpado indireto do mal aquele que, podendo e devendo agir, deixa de agir (S. Th., IaIIae, q.79, a.1).
- Por outro lado, todas essas considerações acima não significam que, no que tem de substância, esse mal moral também não seja criado por Deus, não enquanto mal moral, e sim enquanto ser (exemplo: Deus cria e atualiza as potências do homem que peca, e onde reside o mal moral).
- Uma vez que o movimento da criatura em direção a Deus se estanca, surge o mal moral, o qual é punido por Deus com o encaminhamento da vontade ao bem particular (há pecados que são castigo de outros pecados). Esta é a “premoção física” ao mal defendida pelos tomistas, que só surge como castigo pela “inconsideração do dever” (Garrigou-Lagrange).
- O homem não tem força para resistir à ação criadora e sustentadora de Deus, porque ele não tem nada que não provenha de Deus. O nada não pode resistir ao ser, o vazio não pode resistir ao preenchimento. Por isso, a ideia atribuída a Francisco Zumel, Marín-Sola, e alguns outros dominicanos, de que, embora Deus seja o Autor de todo bem, o homem por sua própria iniciativa, e sem depender de Deus, cria o mal, resistindo ao impulso da Causa primária (Marín Sola fala em “premoções físicas falíveis”), e que seduz alguns tomistas, no meio tradicionalista e de neoconservadores, é tremendamente antimetafísica.
A questão no fundo me parece simples. As dificuldades de aderir a ela são mais psicológicas do que de raciocínio. O raciocínio de Santo Tomás, por sua vez, é muito preciso e objetivo, de uma objetividade e de uma precisão que nós não vemos nos teólogos modernos.
Um inferno eterno tem a essência do mal pois tem seres lá que continuam amando o pecado logo um inferno eterno demonstra que Deus não conseguiu vencer o mal em absoluto pois o mal permanece eternamente. Se Deus aniquilasse em absoluto o diabo, os demônios e os seres humanos não salvos aí sim seria justiça plena.
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O fato dos condenados continuarem amando o seu pecado é castigo, faz parte da pena. A obstinação da vontade é uma pena acidental, uma vez que a pena essencial é a perda da visão de Deus. Observe que Santo Tomás distingue entre o “mal de culpa” e o “mal de pena”. Ora, não há mais “mal de culpa” na obstinação que se dá no inferno, pois, com a morte, cessa o estado de merecer e de desmerecer, portanto, essa obstinação é “mal de pena”.
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