Uma das coisas de que tomei consciência, quando comecei a pensar sobre as provas da existência de Deus, é que o universo não é uma substância, nem um invólucro que guarde as substâncias. Universo é um termo relativo, e remete aos universais: a espécie e o gênero. O que chamamos de universo, portanto, a criação, não tem unidade, nem forma definida, é tão-somente o conjunto acidental de todas as substâncias existentes. Inclusive, se alguma substância não tem, entre seus acidentes, o lugar e a posição, ainda assim, é parte do Universo ou da criação. Os anjos são partes da criação.
O espaço absoluto não é uma substância, nem é sujeito de acidentes, como pensa o Nougué. Quando medimos a distância entre um corpo e outro, na verdade, são os corpos os sujeitos deste acidente: a posição relativa. O espaço, como não é corpo, nem substância, nem nada, não pode demarcar os limites do cosmos. Como vazio absoluto, não faz parte da criação; se fosse substância, dir-se-ia que é infinito, como não é, não é nada. Isto não impede que possa existir uma substância material, etérea, que ocupe o vácuo cósmico, podendo ou não ser infinita. Equivaleria ao espaço das teorias físicas.
Mas, quais os limites do oceano cósmico? Como vimos, o vácuo cósmico não tem limites. Não é esfera, nem tem qualquer formato. Para além do conjunto imenso de coisas que a cosmologia reconheceria como o nosso universo, que se concebe, na teoria, como originário do átomo primordial, a uma distância impensável, podem existir outros universos, imersos nesse vácuo cósmico. Podem ser infinitos em número, porque, ao contrário do que pensam alguns, não repugna à razão, que Deus possa criar um infinito atual.
Deus pode fazer um corpo infinito, por exemplo, o éter? Sim, se Deus pode criar infinitas coisas, pode criar um corpo que contorne os corpos finitos, mas que, de sua parte, não possua extensão. Santo Tomás, inclusive, aventa a possibilidade de que, por milagre, Deus possa fazer com que um corpo não ocupe lugar, anulando, assim, uma propriedade intrínseca da matéria. Ou que dois corpos ocupem o mesmo lugar, como ocorreu no parto virginal, ou quando Cristo ressuscitado adentrou o recinto onde estavam os Apóstolos. Da mesma forma como, na transubstanciação, pode fazer com que os acidentes existam sem sujeito, pode fazer a substância existir sem seus acidentes intrínsecos. Mas aqui não se trataria de milagre, mas da possibilidade real, conforme à ordem vigente, da extensão (quantidade) consistir num infinito atual.
Sobre a questão do infinito, é bom dizer: é impossível existir um infinito numérico potencial, pois aqui se cairia em contradição: não é possível a algo estar simultaneamente em ato e potência. Mas é esse infinito, que consiste da ação incessante de somar, portanto potencial, que cabe em nossa imaginação. O infinito atual não o cabe, nem mesmo em nosso pensamento, pois, mesmo se criado, é produto da inesgotabilidade da essência divina, a qual não podemos compreender. Porém, Santo Tomás não parece negar, no opúsculo “Contra murmurantes”, e opondo-se a São Boaventura, que tal possa ser criado por Deus.
Assim sendo, o conjunto total das coisas criadas pode ser infinito, mas nada obriga que o seja, pois Deus não está obrigado a criar. Deus basta a Si próprio, e é infinito, sem quantidade, nem divisões, simples e absoluto. Havendo, por seu turno, infinitos habitáculos, é sumamente conveniente que haja outras humanidades, todas pertencentes ao gênero humano, ocupando esses espaços. Serão homens? A razão parece afirmá-lo, uma vez que o homem é a única possibidade intermediária entre o mundo da pura matéria e o mundo da inteligência. Se Deus criou o mundo da matéria para a inteligência, e Deus não faz nada inútil, é imprescindível a existência do homem, adaptado que seja o seu corpo às condições existentes.
Todavia, sendo a criação finita, também não há a absoluta necessidade de ter sido criada para a exploração manual humana. Um mundo inacessível às mãos, ainda é acessível à vista ou só à inteligência. Deus pode ter criado um mundo imenso para que, em grande parte, fosse acessível apenas à inteligência do homem.
Assim, a razão pode, no máximo, considerar que a criação pode ser infinita ou finita, que o homem pode existir aqui ou em outros lugares, deixando-se assombrar pelo mistério, maravilhar-se pela grandeza de Deus. Isso é tudo o que podemos saber.
Olá. Desejo uma explicação de dois textos do Vaticano ii sobre os mulçumanos.
CIC 841, citando a Constituição Dogmática da Igreja, Lumen Gentium 16, do Vaticano II, declarou:
“Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia.” CIC 841 também faz referência à Declaração sobre a Relação da Igreja com as Religiões Não-Cristãs, do Concílio Vaticano II, Nostra Aetate, 3 que torna o ensinamento do Concílio talvez ainda mais claro:
“A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. Adoram eles o Deus Único, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração, como a Deus se submeteu Abraão, com quem a fé islâmica de bom grado vincula-se.”
A pergunta é,o que significa esses textos? Qual a explicação ? ________________________________
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Gabriel, esse comentário não parece ter muita relação com o texto, né?
Mas respondendo: são mais erros do CVII.
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