O FIASCO DA PASTORALIDADE PÓS-CONCILIAR

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O texto abaixo foi publicado originalmente no site Fratres in unum aqui (a figura acima é da celebração ocorrida na Quinta-feira Santa deste ano em que o padre faz o lava-pés com bonecos para representar fiéis).

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A hora da Missa de Sempre

 

O cancelamento das missas presenciais em quase todo mundo empurrou a Igreja Católica para o ambiente virtual e, com ele, decretou a completa falência da liturgia pós-conciliar, que nunca foi bem sucedida em lugar nenhum.

Tempos atrás, afirmou-se que “o problema da missa nova é que ela nunca foi rezada”: cada missa é, literalmente, um rito, ao gosto do celebrante, com total liquidez, sem nenhum tipo de estabilidade.

Isso foi clara e soberanamente percebido nas últimas semanas, em que os padres vieram para a internet ostentar a sua absoluta ignorância, em um arco que vai desde a gramática até o catecismo da primeira comunhão. Obviamente, não faltaram abusos e aberrações, em uma horrenda epifania em que superabundam homilias indigentes e o que há de pior na música e no canto, atrocidades com as quais os católicos estão mais do que habituados.

De outro lado, os fiéis estão furiosos com o completo abandono. Bispos encastelados em seus palácios, com medo da morte, e padres submissos aos bispos, em uma escravidão vergonhosa, enquanto o povo grita de fome. Assim, o pastoralismo do Vaticano II, a “Igreja em saída” do Papa Francisco, tudo foi por água abaixo, devidamente abatido pelo pastores que deveriam ter “cheiro de ovelhas”.

Contudo, a derrota da liturgia conciliar não termina por aí. Como em um passe de mágica, o “comunitarismo” da missa nova foi espanado como a poeira de uma cômoda. Os mesmos que passaram a vida inteira dizendo que o povo não podia “assistir a missa”, mas teria de “participar da missa” — entendendo por participação as conhecidas cafonices de bater-palmas, sacudir as mãos, cutucar o irmão ou qualquer outra esquisitice –, agora regrediram ao nível da “missa assistida” à distância, numa distância muito maior que aquela, sempre criticada, dos fiéis em relação ao longínquo retábulo das Igrejas tradicionais.

Os mesmos que passaram a vida criticando a comunhão espiritual – claro, para defender a comunhão dada para adúlteros e pecadores públicos, a comunhão como sinal de acolhida –, agora, defendem a comunhão via Youtube, pelo olhar e pelo desejo, dizendo que agora basta olhar para a Hóstia desde o sofá. Ironicamente, voltamos aos tempos, tão criticados por eles mesmos, anteriores a São Pio X, em que tão raivosamente afirmavam que a consagração era assistida pelo povo e em que quase ninguém comungava.

Nas novas missas sem povo, por que não celebrar em latim e de frente para Deus – já que não há ninguém adiante, mesmo, nem ninguém que possa responder? Será que não perceberam que a missa conciliar foi abolida pela obsolescência pastoralista que se tornou anulante de si mesma?

Até o Papa Francisco reconhece o fracasso da “comunidade virtual”. Em homilia proferida hoje, afirmou:

Digo isso porque alguém me fez refletir sobre o perigo deste momento que estamos vivendo, essa pandemia que fez que todos nos comunicássemos também religiosamente através da mídia, inclusive esta Missa, estamos todos comunicados, mas não juntos, espiritualmente juntos. O povo é pequeno. Há um grande povo: estamos juntos, mas não juntos. Também o Sacramento: hoje vocês terão a Eucaristia, mas as pessoas que estão em conexão conosco (terão) somente a Comunhão espiritual. E esta não é a Igreja. Esta é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor a permite, mas o ideal da Igreja é sempre com o povo e com os Sacramentos. Sempre.

Evidentemente, as missas transmitidas pela internet podem ser um alívio à completa indigência dos fiéis absolutamente abandonados por seus pastores, mas está longe de ser uma solução satisfatória, mesmo em tempos de pandemia, como pretendem alguns.

Mas, o que está ruim, ainda pode piorar. Alguns ultra-progressistas, ao criticar as missas pela internet, sugerem rezar apenas em casa, caindo no protestantismo mais despudorado, cujo germe está dado desde há tantas décadas. Há bispos que reclamam publicamente de que a Igreja entrou numa espécie de psicose eucarística e que é preciso libertar-se dela. Alguns sucessores dos Apóstolos (!) chegaram a criticar padres que abençoam o povo e as cidades com o Santíssimo Sacramento pelas ruas. Nem Lutero chegou a tamanhas absurdidades!

Os fatos demonstram, uma vez mais, a fragilidade de uma reforma litúrgica que fracassou por completo. Falta apenas a humildade de reconhecê-lo e somos adultos o bastante para saber que o nosso episcopado ideologizado ainda não saiu do romantismo conciliar mais adolescente, e defende com a boca aquilo mesmo que desfaz com as próprias mãos.

Se de um mal Deus Nosso Senhor tira vários bens, parece claro que Ele impõe aos modernistas que engulam a seco um revés a todo o discurso e jargões proferidos por décadas — comunidade, participação ativa, protagonismo leigo, liturgia inculturada, fazendo-os ter de aprender a celebrar sozinhos e sem firulas. Pois, afinal, a solução, pura e simples, já demonstrada e agora reforçada pela pandemia, é deixar de lado as invencionices e retornar à Missa de Sempre.

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