Continuamos a série de traduções dos textos do padre Cekada acerca da Semana Santa (anteriores aqui: Domingo de Ramos, Ofício de Trevas, Quinta-feira Santa; posterior: Vigília Pascal). Texto original aqui.
Tradução por Karlos Guedes.
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Sexta-feira Santa: Rito Antigo vs. Rito de 1955
A SEXTA-FEIRA SANTA originalmente não tinha ofício litúrgico. Nenhuma Missa era celebrada porque, como o Papa Inocêncio I explicou no século V, foi o dia em que “os Apóstolos se esconderam por medo dos judeus”.
Mais tarde, no entanto, a Igreja instituiu um serviço litúrgico para este dia. No rito tradicional isto consiste numa Missa dos Catecúmenos, nas Orações Solenes, na Adoração da Cruz e na Missa dos Pré-santificados.
Durante a Missa dos Pré-santificados, o sacerdote traz a sagrada Hóstia do repositório e executa alguns dos ritos da Missa no altar (incluindo uma elevação), após a qual ele a consome.
O rito reformado de 1955 da Sexta-feira Santa que Bugnini e companhia criaram é um serviço de Comunhão. Aqui estão algumas das alterações:
• À primeira parte, o rito de 1955 é conduzido a partir da sedília, e não do Altar (pense na cadeira do presidente ao estilo Novus Ordo). O celebrante não faz nenhuma leitura se um ministro a canta.
• O celebrante, usando uma capa (e não uma casula) e flanqueado pelos ministros sagrados, canta as Orações Solenes de um livro posicionado diretamente no centro do altar, uma anomalia no Rito Romano.
• No rito de 1955, as Orações Solenes passaram pela primeira série de mudanças pela causa do ecumenismo:
- A Oração pelos Hereges e Cismáticos foi renomeada para Oração pela Unidade dos Cristãos [1].
- Onde o rito antigo ordena que nenhuma genuflexão seja feita na oração pelos judeus, a nova oração ordena que seja feita uma genuflexão. A omissão da genuflexão no antigo rito foi considerada “anti-semita”.
• O rito de 1955 introduz uma nova opção para a Adoração da Cruz. O sacerdote, de pé no degrau superior, mantém a cruz elevada, e o povo a adora em silêncio, em vez de vir para a mesa de comunhão para beijá-la. Essa opção também é encontrada no Novus Ordo.
• Todas as cerimônias místicas da Missa dos Pré-santificados foram abolidas:
- Não há procissão solene do repositório com o Santíssimo Sacramento, acompanhado pelo canto triunfante do hino Vexilla Regis.
- O rito vestigial do Ofertório com a preparação do cálice e incensações desapareceu, e a elevação é abolida.
- O povo recita todo o Pater Noster (Pai-nosso) com o sacerdote ─ uma prática que contradiz completamente uma tradição litúrgica do Rito Romano mencionada por Santo Agostinho.
- O rito simples de comunhão do Ritual Romano é seguido. Todos podem receber a Comunhão.
- Mais uma vez, um Salmo Responsorial pode ser cantado durante a Comunhão.
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Nota do tradutor
[1] No texto original o autor usa “Prayer for the Unity of Christians“. Entretanto no Missal é usado o termo Pela Unidade da Igreja (pro Unitate Ecclesiæ). Ele, o autor, também usa o termo “renamed” enquanto que, na verdade, no rito tradicional não havia nome.