O DEMÔNIO MUDO E O ESPÍRITO IMUNDO

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«Os meus olhos estão para o Senhor, pois Ele arrancará do laço os meus pés».

Eis o Introito da Missa de hoje, III Domingo da Quaresma. Em outro texto, oportunamente falou-se da relação entre Ofício e Missa e sua complementaridade. Novamente, aqui, temos o mesmo processo. As Matinas põem em destaque a figura de José do Egito, vendido pelos seus como escravo. Claramente aqui se vê a referência a Nosso Senhor, vendido por seu amigo pelo preço de um escravo.

E continua o Introito: «Voltai [Deus] os olhos para mim e tende misericórdia de mim, porque eu sou sozinho e pobre». Esse clamor que certamente corresponde ao clamor de José vendido pelos irmãos em terra estrangeira como escravo, se aplica a nossas almas talvez quase desanimadas pelo peso dos exercícios quaresmais, pois somente com o auxílio da graça de Deus podemos cumprir as práticas de penitência que a Quaresma exige e realmente haurir os seus bens espirituais. Por isso o pedido da Mãe Igreja pelos seus filhos é que Deus olhe os votos humildes e estenda Seu braço direito em nossa defesa (cf. Coleta).

Ainda neste sentido, o Evangelho fala sobre da expulsão do demônio mudo, pois outrora era hoje o dia do exorcismo solene sobre os catecúmenos (a eles era permitido ouvir até ao Evangelho da Missa): a mudez do indiferentismo, a mudez da dúvida e a mudez da preguiça.

O demônio tenta os católicos a se calarem diante dos absurdos do humanismo moderno, que clama a aceitação de leis e costumes contrários à lei natural e ao Evangelho. Se cairmos nesta primeira cilada, passamos à próxima.

O demônio vai além, para a mudez da dúvida, colocando obstáculos intelectuais a respeito das convicções que professávamos. A consequência final dessa mudez é a apatia completa: por que fazer algum esforço ascético para algo que não se tem certeza? Aqui se chega à completa degradação espiritual.

Ora, essas tentações podem sujeitar a todos porque já se inicia a terceira semana das mortificações e já estamos propensos a desistir e, como o filho pródigo (Antífona do Magnificat das I Vésperas), abandonar a vida da graça para comer com os porcos.

Por isso, conclui o Introito: «A Vós, Senhor, levantei a minha alma: Deus meu, em Vós confio, não serei envergonhado».

O Evangelho passa, agora, para outro ponto:

Quando o espírito imundo sai de um homem, anda por lugares secos, buscando repouso. E não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa de onde sai. E quando chega e a encontra varrida e ornada, vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, aí fazem habitação. E o último estado desse homem torna-se pior do que o primeiro.

O “espírito imundo” é, na verdade, a concupiscência e vícios a que nossa alma está apegada. Expulsamo-lo na Quarta-feira de Cinzas, através das penitências que se iniciam neste dia. Nosso Senhor nos alerta para que os esforços quaresmais não sejam inférteis e, terminados os jejuns, o “espírito imundo” volte pior e nossa alma se afunde mais ainda no charco das iniquidades, tornando o “último estado pior que o primeiro”.

Não bastasse vencer as investidas demoníacas, ainda temos que combater a nós mesmos. Uma mulher dentre a turba brada: «Bem-aventurado o ventre que Te trouxe, e os peitos que sugaste». De fato, ela é a Bem-aventurada. Mas não é nisso que devemos pautar nossa esperança, pois essa relação com Ele é singular. Não só Nossa Senhora, mas outros poucos, a quem foram dados especiais privilégios, a esses particularmente amados e agraciados com dons especialíssimos, a esses não podemos nos comparar (podemos cair no mesmo pecado dos invejosos que acusaram a Nosso Senhor de sobrepujar o demônio pelo próprio Belzebu).

Nosso Senhor Jesus Cristo não nos deixaria, pois, sem a solução ordinária para combater todos esses entraves a nossas conversão e enriquecimento neste tempo quaresmal.

«Bem-aventurados antes aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática».

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