O Senhor foi batizar-Se! O catecismo nos ensina que Ele foi, não porque tivesse pecado para externar arrependimento, mas porque convinha. Era conveniente, pois, por três motivos: cumprir a justiça (cf. Mt 3,15), santificar a criatura água (que mais tarde seria utilizada como matéria do Sacramento do Batismo) e manifestar-Se como Deus.
Tinha que cumprir a justiça, diz Santo Hilário, pois só Ele é o cumprimento da Lei (cf. Mt 5,17). É neste aspecto que este dia se conecta com a festa da Sagrada Família. No seio dessa Santa Família, Nosso Senhor cumpriu a Lei, fazendo-Se sujeito a seus pais (cf. Evangelho da referida festa): o Verbo nascido de uma mulher, nasceu sujeito à Lei (cf. Gl 4,4).
Outro aspecto ainda digno de se ressaltar sobre a festa da Sagrada Família de Nazaré é o porquê de ser celebrada no Tempo da Epifania. A Liturgia nos dá o motivo no Evangelho: que outra coisa é a “perda” do Senhor e o encontro dEle em meios aos doutores, a não ser uma certa manifestação que aquele Menino é Deus? Era-Lhe oportuno que cuidasse das coisas do Seu Pai:
Depois de passados três dias, acharam-nO no Templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam, pasmavam de sua sabedoria e de suas respostas (Evangelho).
Assim, pela obediência a São José e a Nossa Senhora, esta festa nos mostra o Deus que quis submeter-Se. Submeteu-Se a ponto de ir batizar-Se, a ponto de morrer na Cruz. Atenhamos-nos agora ao Batismo do Senhor.
Na festa do Batismo do Senhor — ou segunda teofania (na verdade a manifestação de toda a Santíssima Trindade) —, cinco realidades são destaques: o Precursor, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e as águas do Jordão.
O Precursor, São João Batista, o maior dos Profetas, pois que não falou do Messias, mas O apontou: «Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira os pecados do mundo» (Jo 1,29). Ele exemplo de ascese, austeridade e humildade, diminui-se, porque sabia que importava Ele, o Cristo, crescer (cf. Jo 3,30).
Deus Pai, que Se manifesta claramente com a voz de trovão (e afirma a divindade do Filho do homem): «Este é o meu Filho que recebe todo o meu Amor» (Mt 3,17).
Deus Filho, o Verbo Encarnado, mas humilde, sujeito à Lei, foi anunciado pela Santíssima Trindade.
Deus Espírito Santo, que repousa sobre Nosso Senhor mostrando às testemunhas sobre Quem a voz falava: «Este sobre Quem repousar o Espírito e nEle permanecer, Este é Quem batiza com o Espírito Santo» (Jo 1,33). Este Amor que o Pai deposita é o Espírito Santo. Deveras, só Cristo pode receber todo o Amor do Pai.
As águas do Jordão, nelas, todas as águas são santificadas pelo contato com Cristo e assim elas podem nos purificar pelo Batismo, em nome de toda a Santa Trindade que quis Se manifestar hoje.
Tinha Nosso Senhor que batizar-Se, enfim, porquanto, como vaticinou o salmista, é pelo Batismo que todas as nações, convertidas do erro e do paganismo pela pregação de Sua Esposa, a Igreja, são submetidas a Ele: «Adorá-l’O-ão todos os reis da terra; todas as gentes servi-l’O-ão» (Antífona do Ofertório).