ILAÇÕES SOBRE A MORTE

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A morte é, de certa, forma, uma criação do homem. Aquela decisão tremenda tomada por Adão, ao ser apresentado a ele, por Eva, o fruto da árvore foi, de fato, o maior dos atos humanos.

Imagino o silêncio e a expectativa de toda a criação naquele momento! Os anjos de um lado; os demônios do outro… cada um esperando a decisão humana mais importante…

Enfim, tomou Adão sua decisão: quis ser igual a Deus! E caiu do alto grau de dignidade que tinha. Imagino que a retirada da graça foi o que eles mais sentiram, pois se sentiram nus (cf. Gn 3,10). Contudo, para nós, que já somos concebidos no pecado (cf. Sl 50,7), creio não ser a falta da graça o mais ululante dos castigos, mas a morte.

A morte chama-nos à reflexão, tanto religiosa como filosoficamente.

Filosoficamente, a morte nos traz a pequenez do homem. Por mais inteligente e estupenda tenha sido a sua vida. Por mais que tenha construído arranha-céus, espaçonaves, automóveis, computadores ou curado todas as doenças! Tudo isso fica infinitamente pequeno diante da morte. Eis a pequenez, brevidade e fragilidade que é nossa vida!

Ao mesmo tempo, é diante dela que muitas coisas banais tomam sua importância suprema! Ela nos impõe a valorização de pequenos e, por vezes, ordinários momentos do quotidiano. O que mais simples e corriqueiro que um beijo de despedida de um parente ao sair de casa? E o que mais se sente falta em sua ausência!?

A morte também nos evidencia a fragilidade da vida. É hoje e não é amanhã, como a erva do campo. Neste momento então nos invade a pergunta: que é o homem? Por que existimos?

Se recorrermos apenas à Filosofia para dar essas respostas, constatamos que a vida humana fica, em certo sentido, sem razão de ser. Por que viver, se voltaremos ao nada?

Neste instante nos chega, como sempre, a Santa Religião para ceifar o desespero arrebatador que inundaria a alma de quem ousasse pensar na morte (triste é a sina dos ateus…).

A primeira coisa que a Religião Católica nos elucida é: a pergunta está errada. Não é voltar ao nada; Deus, nosso Senhor, não destrói sua criatura mais dileta (deste mundo). Existimos para Deus, quer vivamos ou morramos (cf. Rm 14,8), é Ele a razão de nossa existência.

A morte foi, pois, o castigo divino mais acertado deles! Dela podemos tirar importantes lições. A grandiosíssima lição foi Deus Quem nos deu: “Ó certamente necessário pecado de Adão, que nos mereceu tão grande Redentor” (cf. Precônio Pascal). Simplesmente Deus não permitiria um só ato mau, se dele não pudesse se fazer um bem, nos ensina Santo Agostinho. E não foi um bem que Ele tirou da morte, mas o Bem, Seu diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Nosso Salvador.

A Liturgia da Igreja nos admoesta: “Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó retornarás” (ao pó, não ao nada). Por isso qualquer manual de ascética cristã nos manda meditar na morte (Memento mori).

Norteados pela Santa Fé, a morte nos mostra o quanto estamos carnalizados. O quanto precisamos nos espiritualizar, porque vemos nela a grande desgraça do homem e não no ofender a Deus, Sumo Bem, tampouco enxergamos que, por Cristo, nosso Deus, ela não é mais sinal negativo, mas a porta da nossa páscoa definitiva (cf. ICor 15,55).

Não é à toa que, novamente, a Santa Liturgia nos dá o conselho: «Sursum corda» (Corações para o Alto). E apesar de entendermos a língua que se fala, atualmente, na Liturgia, não a compreendemos realmente (não em seu seu sentido profundo). Quantas pessoas, clérigos ou leigos, não respondem automaticamente «Habemus ad Dominum» (Temos [os corações] no Senhor).

Memento mori.

É na perspectiva da morte que vemos o quanto devemos nos esforçar para termos nosso coração já no Senhor. É a Ele que devemos transportar e dirigir nossa alma, “porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6,21).

Memento mori.

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PUBLICADO:  23 novembro 2012

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