CATECISMO CONTRA OS PROTESTANTES

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Um cisma, que ocorreu pelo orgulho dos homens e que dura até hoje, é o chamado cisma do ocidente, conhecido popularmente por revolta protestante. Uma prova, rasteira é verdade, de que essa revolução religiosa não se tratou de um movimento com origem divina, é a multiplicação de igrejolas de cunho protestante que se alastram pelo orbe.

Reunirei aqui algumas das acusações feitas pelos protestantes contra a verdadeira religião, um ódio que tem sua origem desde o jardim do Éden. Ficará claro que, na verdade, os protestantes odeiam algo que identificam com a Igreja Católica, mas não é a Igreja Católica.

As primeiras objeções seguem os argumentos dum vídeo que pretende refutar a Fé Católica (pregação feita pelo pastor presbiteriano — e calvinista — Augustus Nicodemus). Claro que pretendo acrescentar mais respostas a outras acusações no futuro (e com a sugestão dos leitores).

***

1. A Igreja Católica não é a Igreja primitiva, pois foi criada por Constantino no ano 313.

Esta acusação não é propriamente teológica, mas meramente histórica, revelando da parte do acusador um enorme desconhecimento da Igreja nos primeiros séculos. Um flagrante exemplo dessa ignorância do acusador é o fato de ele afirmar o Concílio de Éfeso, o terceiro Concílio Ecumênico, foi convocado para combater a heresia docetista [1], quando, na verdade, seu objetivo foi combater a heresia nestoriana [2].

Se Constantino foi o criador da Igreja, o que existia então antes do édito e quais mudanças ele introduziu?

A segunda ignorância do acusador é sobre a realidade da Igreja. Ela não é apenas a Igreja Romana, também chamada de ocidental (principalmente quando se fala dos primeiros séculos, pois o maior corpo da Igreja se encontrava no oriente). Assim, se a criação da Igreja Romana se deu no século IV, quando ocorreu a criação das Igrejas Orientais Bizantina, Siríaca, Armênia, Alexandrina, Antioquena etc.?

Alguns protestantes dizem que foi só após o I Concílio de Niceia que a Igreja passou a se chamar Católica. Essa é a terceira ignorância, já que o termo se refere a uma das quatro caraterísticas da Igreja. Por isso, já era empregado antes do Concílio para distinguir a Igreja verdadeira das seitas heréticas que já existiam.

Como argumento definitivo, o Padre Apostólico Santo Inácio, Patriarca de Antioquia, discípulo de São João Apóstolo, escreveu em 68 dC:

Onde está Cristo Jesus, está a Igreja Católica (Epístola aos Esmirniotas 8:2, destaques meus).

2. A Igreja vendia as indulgências e, com isso, lugares no céu.

Essa acusação é reveladora porque mostra uma ignorância crassa e basilar sobre a doutrina católica do pecado e suas consequências.

Indulgência não é o perdão dos pecados, mas das consequências deixadas pelo pecado.

O pecado é a desobediência sabida e querida do indivíduo a uma ordem de Deus, direta ou indiretamente. É, antes de tudo, um ato contra a justiça. O pecado pessoal atual pode ser dividido em dois tipos gerais:

  • mortal → quando a desobediência é em matéria grave, de sorte que aparta completamente o pecador da amizade com Deus e, por isso, mata a alma.
  • venial → quando a desobediência é em matéria leve, de sorte que não há apartamento total entre o pecador e Deus.

O pecado mortal é um ato infinito contra a Majestade Divina, pela infinita dignidade ultrajada de Deus. Merece, pois, uma punição infinita: a pena eterna (o inferno).

O pecado venial é um ato finito porque não ofende diretamente a Majestade Divina. Merece, pois, uma punição finita: a pena temporal, ou seja, os sofrimentos presentes e, não sendo esses suficientes, os futuros (o purgatório).

Posto isso, a indulgência é o perdão das penas temporais devidas aos pecados veniais ou aos pecados mortais já perdoados.

Resumindo:

  1. as indulgências não podem dar o perdão aos pecados mortais e, mesmo que sejam “vendidas”, não tirariam a alma do fiel do inferno, posto que serviriam apenas para as penas temporais.
  2. o purgatório não é o inferno dos condenados, e a Igreja Católica não acredita que as almas do inferno possam sair de lá, como erroneamente nos acusam porque não entendem nem o que criticam.

3. Os católicos adoram as imagens dos Santos, proibidas por Deus.

Juntamente com essa acusação estranha, pois, como mostraremos, o próprio Deus não só permite como manda fazer imagem, vem outra de termos modificado os mandamentos do Decálogo.

Decálogo católico Decálogo protestante
I. Amar a Deus sobre todas as coisas I. Amar a Deus sobre todas as coisas
II. Não tomar o Santo Nome de Deus em vão II. Não fazer ídolos
III. Guardar domingos e festas III. Não tomar o Santo Nome de Deus em vão
IV. Honrar pai e mãe IV. Guardar domingos e festas
V. Não matar V. Honrar pai e mãe
VI. Não pecar contra a castidade VI. Não matar
VII. Não roubar VII. Não pecar contra a castidade
VIII. Não levantar falso VIII. Não roubar
IX. Não desejar a mulher do próximo IX. Não levantar falso
X. Não cobiçar as coisas alheias X. Não cobiçar as coisas alheias

Antes de tecer cometário à estranha contagem dos mandamentos pelos protestantes, vamos definir o que vem ser adoração e idolatria.

Adoração é o ato pelo qual o indivíduo reconhece tal Ser como divino e de cuja divindade tudo depende. O principal ato de reconhecimento da divindade desse Ser é o culto sacrifical, que os protestantes não têm.

Ídolo é a criatura que é posta no lugar de Deus, recebendo, portanto, culto de adoração indevida, a idolatria.

O ato de adoração é muito mais interno (como convém ao homem, ser espiritual) que externo. Os soldados fizeram externamente um ato de adoração (ajoelhar-se) para zombar de Jesus Cristo quando foi coroado de espinhos (cf. Mc 15,18).

Além disso, Deus manda fazer imagens:

  • na Arca da Aliança (Ex 25,18-20);
  • serpente de bronze (Num 21,8s);
  • no Templo (I Rs 6,23-35; 7,29).

Entretanto, castigou os construtores do bezerro de ouro:

O Senhor disse a Moisés: Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito. (Ex 32,7s).

Ao bezerro ofereceram sacrifícios que, como dito, é o ato supremo de ADORAÇÃO. E para ficar mais explícito, disseram ser o bezerro o Deus que lhes tirara do Egito!

Pelo princípio da hermenêutica, um trecho de uma obra não pode contradizer com o outro, e o leitor é obrigado a interpretar harmonicamente.

Disto fica claro que a proibição diz respeito à fabricação das imagens de ídolos, criaturas (como um bezerro) postas no lugar de Deus (oferenda de sacrifícios) e não, necessariamente, à qualquer imagem em si.

Por mais que nos ajoelhemos diante de uma imagem de um Santo (que não é o Santo em si, mas apenas representação dele) jamais o reconhecemos como Deus, do qual dependemos até para existir. E isso é o pensamento de qualquer católico, até os mais humildes. Todos os atos feitos não passam de veneração e respeito apenas.

A atitude de veneração já ocorria na Igreja nascente, como atesta o livro dos  Atos dos Apóstolos: muitos veneravam São Pedro, cuja sombra curava (cf. At 5,15ss).

*

Passemos a considerar a modificação feita no Decálogo pelos protestantes. A fim de ter razão na acusação contra a Igreja, ele tomaram ao I Mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas) e dividiram em dois (amar a Deus sobre todas as coisas e não ter ídolos). Ora, diante do que já foi explicado, quem ama a Deus necessariamente não fará ídolos, pois seria como depor Deus por uma criatura. A acusação de que suprimimos o que seria o II Mandamento (não ter ídolos) para justificar os Santos e suas imagens cai por terra pela própria explicação católica do I Mandamento (amar a Deus sobre tudo).

Para que continuassem com os dez mandamentos uniram o IX (não desejar a mulher do próximo) com o X (não cobiçar as coisas alheias). Justificam que por «coisas alheias» se entende também as mulheres.

Com isso já respondemos a uma acusação (esta dos ateus) de que a Igreja Católica despreza a mulher. Ao contrário, o desprezo é dado pelos protestantes, que tomam a mulher como propriedade do homem. De fato, nenhuma outra religião defende mais a dignidade da mulher que o catolicismo, religião instituída pelo Deus que quis nascer da Mulher.

4. Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens.

A passagem em que se baseiam para isso é «Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo». Ora, os acusadores esquecem-se do restante da frase:

Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem, que Se entregou como resgate por todos (I Tm 2,5s).

Ora, aqui São Paulo fala de mediação salvífica. Em outra palavras, o que o Apóstolo ensina é que apenas uma pessoa pode nos salvar, Jesus Cristo, homem (ou seja, pela obra da Encarnação que culmina na morte de cruz). Há outras passagens bíblias que atestam a unicidade de mediação de Cristo, mas sempre neste sentido:

  • mediador que oferece sacrifícios pelos pecados (salvação): Hb 5,1;
  • mediador porque por Sua morte expiou os pecados (salvação): Hb 9,15;
  • sangue da aspersão, alusão ao cordeiro pascal (salvação): Hb 12,24.

Isso não implica mediadores para outros fins (o próprio pastor não “ora” pelos seus?):

  • Abraão intercede por Sodoma: Gn 18,23ss;
  • Moisés intercede pelo povo: Ex 32,11ss;
  • Nossa Senhora intercede pelos noivos: Jo 2,3ss.

É forçoso concluir, como acima, pelo princípio básico da hermenêutica, que não há nenhuma contradição entre a doutrina católica e a Escritura.

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4.1. Os Santos estão mortos e por isso não podem interceder.

Esta é uma outra acusação que vem normalmente atrelada à anterior. O próprio Deus assim Se apresenta:

Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6).

Na passagem em que Moisés intercede pelo povo que prevaricara com o bezerro, ele alude aos Santos que já morreram:

Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6).

Lembrai-Vos de Abraão, de Isaac e de Israel, Vossos servos, aos quais jurastes por Vós mesmo de tornar sua posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e de dar aos seus descendentes essa terra de que falastes, como uma herança eterna. E o Senhor Se arrependeu das ameaças que tinha proferido contra o seu povo (Ex 32,13s).

Em outra situação Nosso Senhor diz:

Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos (Mt 22,32).

E São Paulo confirma:

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? (…) estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor (Rm 8,35ss).

Então os Santos que morreram estão na glória de Deus e podem interceder por nós.

5. A Bíblia é a única fonte de autoridade divina, a Tradição e o Magistério são revelações contínuas de Deus à Igreja e por isso devem ser rejeitados.

Novamente é uma acusação sem sentido que revela uma enorme falta de compreensão do catolicismo.

A Tradição e o Magistério não são fontes de NOVAS doutrinas. A Tradição Apostólica é a Palavra de Deus que não foi escrita, é a fonte primordial da Revelação e excede a Sagrada Escritura mesmo em antiguidade (pois existiu antes de ser escrita), em plenitude (pois possui todas as verdades reveladas, as quais não foram reveladas por escrito) e em suficiência (pois a Sagrada Tradição não precisa de outra fonte revelada enquanto tal). A Escritura, entretanto, precisa da Sagrada Tradição para (i) estabelecer sua própria autoridade e (ii) manifestar o seu sentido autêntico.

(i) A Escritura não pode ter sua autoridade em si mesma, como falam os protestantes, apenas porque ela mesma se diz inspirada. Em nenhum local da Bíblia está dito que ela é a única e suficiente fonte da Revelação. Na verdade, todos os livros tidos como sagrados pelas falsas religiões se intitulam como verdadeiros. O argumento tautológico não pode ser usado em si mesmo.

(ii) Tampouco pode a Escritura determinar sua justa interpretação. Ela mesma atesta isso:

Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal (IIPd 1,20).

Há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras (IIPd 3,16).

Do primeiro argumento se depreende a necessidade de outra fonte anterior, que a Igreja chama de Tradição Apostólica ou Sagrada Tradição (há um equívoco dos protestantes que confundem a Tradição com mero costume, mais pode ser lido aqui). A Sagrada Tradição não é outra fonte de verdades novas, mas é a mesma fonte da verdade de sempre.

Do segundo, a necessidade de um legítimo intérprete das fontes da Fé: o Magistério da Igreja. O Magistério da Igreja é a interpretação correta e autêntica das fontes, seja a Tradição, seja a Escritura. Não constitui verdade, apenas interpreta o sentido real das fontes.

Mais informações sobre as fontes da Fé podem ser lidas aqui.

6. Somente a Fé é necessária para a salvação, o contrário, é puro pelagianismo.

Não há dúvidas da importância e imprescindibilidade da Fé para a salvação, pois sem ela não se pode agradar a Deus (cf. Hb 11,6). E Nosso Senhor afirma que não crer já é motivo de condenação súbita (cf. Mc 16,16).

Mas a Santa Religião afirma que não é apenas a Fé (embora que sempre com ela) a causa da redenção do homem (mais sobre a Fé pode ser lido aqui). Se unicamente a Fé fosse necessária à salvação, de que valeriam os Mandamentos? Nosso Senhor diz ao jovem rico:

Se queres entrar na vida, observa os mandamentos (Mt 19,17).

Diz São Paulo: “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). E São Tiago: “Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2,17s).

O mesmo princípio da hermenêutica, que harmoniza trechos de uma obra que aparentam contradição, tem que ser aplicado aqui.

A causa formal objetiva da redenção é o Sacrifício vicário feito pelo Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo (cf. I Tm 2,5s).

Por causa da obra da Redenção operada pelo Verbo divino, o homem pode receber de Deus a Fé e a aplicação dos frutos dessa redenção, que os teólogos católicos chamam de redenção subjetiva. Não há pelagianismo algum na doutrina católica. Observemos que a Redenção, causa da Fé, e a própria Fé é dada por Deus, sem mérito algum de nossa parte. É um ato de total iniciativa da liberdade e liberalidade divinas.

Entretanto, a luz da Fé, que ilumina a treva da alma imersa na escuridão do pecado, tem que ser mantida acesa dos turbilhões de vento que o demônio, o mundo e nós mesmos sopramos. O domínio de si, exige do homem disciplina sobrenatural que chamamos ascese. Deus exige-nos, pois, certa colaboração com a própria salvação, sempre depois de ter Ele tomado a iniciativa.

Por isso Nosso Senhor manda que se guarde os Mandamentos; São Paulo fala de completar os sofrimentos de Cristo; e São Tiago das obras por causa da Fé. Somente com a explicação católica não se encontram contradições na Escritura e se mantém a harmonia dela.

7. Não existem Sacramento da Ordem, mas todos os batizados são igualmente ministros de Cristo.

Com esse argumento, dizem que não existe poder de perdoar os pecados ou mesmo de ungir alguém.

Nesta questão não nos deteremos muito, porque o número de trechos bíblicos contra essa falácia é vasto.

Isto é o Meu Corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de Mim (Lc 22,19).

Soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos (Jo 20,22s).

Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados (Tg 5,14).

A primeira passagem, atesta o poder dado aos Apóstolos de agir em nome de Cristo («em memória de Mim»). A isto a teologia católica chama de agir in persona Christi (na pessoa de Cristo).

A segunda, o poder de perdoar pecados que o próprio Cristo atribui apenas a Deus: “Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?” (Mc 2,7). Isto confirma o poder de agir in persona Christi.

Na terceira, tem-se a prova da existência do ministério ordenado (o termo «sacerdote» utilizado pelo Apóstolo).

O argumento protestante, portanto, não tem base bíblica.

8. Não existe primado petrino; se houvesse, não teria apenas uma passagem da Bíblia que o atestasse.

A passagem a que se refere a acusação é a seguinte “E Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16,18).

É merecedora de destaque a estranheza causada por essa alegação, por três motivos.

Primeiro porque contradiz a tese protestante da suficiência formal da Escritura. Ora, se apenas ela é regra de Fé, por que é necessário que uma mesma doutrina seja relatada por todos os quatro evangelistas? Se tomarmos esse raciocínio como verdadeiro, concluiríamos, por exemplo, que Nosso Senhor não lavou os pés dos Apóstolos, pois que apenas São João relata o fato.

Segundo porque a Escritura sugere fortemente que São Pedro é o Príncipe dos Apóstolos. Em todas as listas em que eles são nomeados o primeiro é sempre São Pedro (assim como o último é sempre Judas, o traidor):

Eis os nomes dos doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor (Mt 10,2ss).

Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou (Mc 3,16ss).

Ao amanhecer, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor (Lc 6,13ss).

Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago (At 1,13).

Sugestão também feita do relato da Ressurreição:

Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, que disse: (…) Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galiléia. Lá o vereis como vos disse (Mc 16,6).

Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro. Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou. Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão (Jo 20,3ss).

Terceiro — e definitivo — porque não é esta a única passagem que relata o primado; ele está, na verdade, presente em várias outras partes da Escritura e da Tradição:

Lc 22,32: “Eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos”.

Jo 21,15ss: “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os Meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-Me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os Meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-Me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-Me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, Tu sabes que Te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as Minhas ovelhas”.

At 15,7: “Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem”.

Ainda sobre o primado de Roma (e São Pedro), fala Santo Inácio de Antioquia (séc. I):

Roma preside a Igreja na Caridade (Carta aos Romanos Prólogo).

Alguns ainda dizem que a pedra a que se refere Nosso Senhor em Mt 16,18 não é Simão, filho de Jonas, mas Ele mesmo. Contra esse argumento citamos:

Jo 1,42: “Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)”.

Gl 1,17: “Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias”.

De fato, Cristo é a Pedra angular rejeitada (cf. Sl 117,22), fundamento ontológico de todo o universo; a Fé na divindade de Cristo, que foi professada por São Pedro, é a pedra espiritual sob a qual a Igreja foi fundada (cf. Mt 16,18).

Os protestantes aceitam essas duas explicações. Contudo, esse mesmo São Pedro, cuja profissão de Fé lhe foi revelada pelo próprio Deus (cf. Mt 16,17), torna-se a pedra vicária da Igreja.

O que não entendemos é o porquê dessas três realidades serem excludentes! Simão é pedra como Vigário (representante) de Cristo na terra. A Fé é o fundamento espiritual da Igreja, e neste sentido ela é a pedra. Mas tanto São Pedro como a Fé são pedras relativas, porque recebem seu valor da verdadeira e única Pedra, Pastor de Bispo de nossas almas (cf. I Pd 2,25), Nosso Senhor Jesus Cristo.

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8.1. São Pedro foi repreendido por São Paulo, logo não era o Príncipe dos Apóstolos e nem pode ser infalível.

Cabe logo uma diferenciação: infalibilidade não implica impecabilidade. Não falhar no Magistério não quer dizer ausência de pecado, pois um diz respeito à inteligência e o outro à vontade. Qualquer um pode querer o errado, apesar de conhecer o certo. Aliás, para se pecar tem que se querer fazer o que se sabe ser errado.

Pelo que foi dito, o Papa, portanto, perde a infalibilidade (e o cargo) se peca contra a Fé, ou seja, se cai em heresia ou apostasia (eis uma obra que aborda essas possibilidades).

A infalibilidade Papal existe por causa do que foi respondido no n. 5, para que a autêntica e legítima interpretação da Revelação seja dada aos Santos (assim se refere São Paulo aos católicos).

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8.2. Se existe uma infalibilidade, esta é dada à Igreja como atesta a Bíblia.

Aqui, os protestantes se referem a Mt 18,18: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu”.

Por que Mt 16,18 contradiz Mt 18,18? Isso, mais uma vez, vai de encontro com o princípio básico da hermenêutica.

Na primeira passagem, Nosso Senhor dá só a São Pedro o poder das chaves (de ligar e desligar); na segunda, a todo o Colégio dos Apóstolos (Bispos), que inclui São Pedro, evidentemente. A única coisa que se pode concluir das duas perícopes é que São Pedro sozinho (o Papa) tem o poder total sobre a Igreja e que todos os Apóstolos juntos (os Bispos, sob a anuência do Papa) gozam também deste poder.

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Notas

[1] O docetismo dizia que Cristo não era homem verdadeiro e que tinha Corpo apenas aparente. Mais detalhes aqui.

[2] Nestório afirmava que em Cristo havia duas pessoas distintas (uma heresia semelhante à pregada pelos protestantes).

7 respostas em “CATECISMO CONTRA OS PROTESTANTES

  1. Para DEBITORIBUS e com o ET CUM SPIRITU TUO etc., melhor seria não mudar a tradução, para quê?
    Como católico, tenho notado quanta frouxidão existente até a partir de nosso episcopado – agora até mesmo do Vaticano, ostensivamente – de como se omitiria em combater o protestantismo, e ainda doravante quer é dialogar com hereges, dando aquela impressão que a Igreja é que os deixou!
    Tem havido por aí um certo e indeterminado ECUMENiSMO que mais transcende é odor de SINCRETISMO!
    Quase todas as seitas hoje em dia são pentecostalistas, e em nada se diferem dos cultos e manifestações sucedidas em centros espíritas, incl; com baixa de entidades, satanismo dos brabos – farinhas do mesmo saco!
    Não dão mostras algumas de quererem voltar e, às vezes que discuti com obreiros e pastores que não tiveram saída, passaram aparentemente a me discriminarem, nem mais se interessarem a falar comigo, reticentes, por ter lhes mostrado que protestantismo e relativismo se homogenizam!
    São Pio de Pietrelcina detestava o protestantismo o qual, de como se identifica com a maçonaria, né?
    A quantidade pastores que são “irmãos-bodes” não é pequena…
    Embora no episcopado desses tenhamos e muitos no clero, como os da esquerdista TL!

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